Os aspectos visuais referentes às subjetividades de motociclistas de moto clubes no Recife: colete, brasão, batizado e impressões da sociedade

Rebeca Kramer


Introdução

 

  Na capital pernambucana, costumam transitar tipos “especiais” de motociclistas. Não são, contudo, aquelas pessoas que usam a moto “exclusivamente” como um meio de transporte, ou de ganhar a vida (mototaxistas e motoboys). Trata-se, na realidade, de pessoas que nutrem um sentimento especial e afetivo pela moto e, ao encontrarem nela um ponto de partida, propõem-se a se reunir em clubes de motos ou moto clubes, inserindo-se dentro de uma comunidade mais ampla de relações. Nesse sentido, a presente pesquisa se propõe a estudar alguns dos aspectos visuais e de performance característicos da prática do motociclismo no Recife: 1) o significado do colete preto usado pelos motociclistas 2) o sentido do brasão dos clubes 3) os fundamentos dos rituais de passagem para o batismo de membros 4) as impressões da cidade em torno dessa produção cultural. Para tanto, apresentamos os principais fatos da história e da filmografia no mundo que contribuíram para a construção do habitus dos motociclistas e, especialmente no Recife, aspectos da cultura local decisivos para uma prática singular. Com essa finalidade, fotografias deverão ilustrar a pesquisa etnográfica.


  Para o entendimento do artigo, deve-se ressaltar a distinção entre os conceitos de “motoqueiros” e “motociclistas”. Segundo o presidente do Órion Moto Grupo, Zózimo Costa, “motoqueiros” e “motociclistas” representam conceitos diferentes, apesar de terem em comum o uso da motocicleta. “Os ‘motoqueiros’ andam por cima da calçada, não usam capacete, andam com o combustível na reserva, andam de sandália e avançam sinal”, explicou o motociclista, completando que um mototaxista ou entregador de pizza podem também ser considerados motociclistas, a depender de sua conduta no trânsito. Portanto, já dizia Weber (2002) não ser verdade que a participação em qualidades comuns, em situações comuns e comportamentos semelhantes implique, necessariamente, na existência de uma comunidade (WEBER, 2002, p.73). Nesse sentido, existem inclusive associações com a finalidade de defender o motociclista, independentemente da cilindrada ou marca da moto: a Associação Brasileira de Motociclistas (ABRAM) , fundada em 1997, e a Associação dos Motociclistas de Pernambuco (AMO-PE) , fundada em 2008.


  Diante de um grande universo de potenciais “sujeitos” de estudo, senti-me na “liberdade” de escolher os informantes conforme determinadas características, as quais seriam “típicas” dos motociclistas. Entram, portanto, no recorte, os motociclistas possuidores de maior representatividade no “meio” motociclístico, tanto os que promovem mais festas e encontros e estão mais na mídia, quanto os que eram mais militantes socialmente, realizando parcerias com órgãos públicos, campanhas solidárias e os que lutam engajados para se diferenciarem dos “motoqueiros” no trânsito. Esses critérios visam a reunir os mais instruídos, conscientes de sua identidade enquanto grupo e organizados politicamente, que poderiam responder de forma mais “segura” aos questionamentos do projeto. Paralelamente, a pesquisa se debruça sobre os motociclistas que possuem brasão de identificação do moto clube ao qual estão afiliados. Em muitos momentos, ao mesmo tempo, foram importantes informantes alguns motociclistas que não estavam acostumados a dar entrevistas ou a “representarem” perante outros moto clubes ou a imprensa. Como eles não discursavam com habitualidade, seus depoimentos apresentaram peculiares doses de “despreocupação” e espontaneidade.  


  A prática do motociclismo se fortalece no cenário atual a partir do aumento no número de motos vendidas em todo o Brasil. Do ano de 1998 ao mês de agosto de 2014, o site da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) indica um crescimento de 1.207,66% na frota circulante de duas rodas motorizadas em Pernambuco no período. Em 1998, eram 73.609 motocicletas e, até agosto de 2014, circulavam 962.553 motos no Estado. Segundo Hall (2001),




ao utilizarem os recursos materiais e de cultura à sua disposição, os sujeitos criam sua identidade (HALL, 2001, pp.34-35). Percebemos, então, que um bem de consumo material – a moto – impulsiona a criação de uma lógica que relaciona pessoas, contribuindo para o aumento também na quantidade de moto clubes no Estado. Nesse sentido, em Pernambuco, existem 462 clubes de motos e, destes, 131 com sede no Recife, segundo dados da Revista Moto Clubes.


Influências estrangeiras na performance dos motociclistas


  Em muitos momentos da pesquisa de campo, os motociclistas associavam a forma de se vestir com o que viam nos filmes americanos: o gosto pelo Rock n’Roll, o costume de usar o colete preto (e considerá-lo uma “segunda pele”), o uso de um brasão de identificação dos clubes, além da origem de toda essa performance que trata a imagem do motociclista de alguma forma como outsider, que se relaciona com outros outsiders (ALFORD; FERRIS, 2007, p.70). Entre as possibilidades, acreditamos que a imprensa e a filmografia estrangeiras, especialmente dos anos 50 e 60, contribuíram para a criação de um estereótipo inspirador e, ao mesmo tempo, disseminador do medo.


  O estereótipo negativo atribuído aos “motoqueiros” surge como um marco no final de semana do Dia de Independência da América, em 4 de julho de 1947, quando um número de “motoqueiros” foi rodar na cidade de Hollister, na Califórnia, para beber, andar em suas motos e fazer baderna. Segundo Alford e Ferriss (2007, pp.89-90), o Jornal The San Francisco Chronicle censurou os atos em suas manchetes, mas o maior dano mesmo à reputação dos “motoqueiros” foi provocado pela Revista Life, que pegou uma foto tirada pelo The San Francisco Chronicle e publicou no dia 21 de julho de 1947 a fotografia de um “motoqueiro” bêbado e arrodeado de garrafas quebradas de cerveja, denominada The Cyclist’s Holiday (as férias de um motoqueiro). Segundo Alford e Ferriss (2007), esse registro fotográfico foi colocado junto a outra foto, intitulada Barber’s Holiday (as férias de um barbeiro), representando um manequim usando uma máscara de macaco sentado na cadeira de um barbeiro. As fotografias teriam estigmatizado os “motoqueiros” enquanto criaturas primatas com instinto selvagem. Contudo, tanto a foto do manequim como a do “motoqueiro” eram montagens (ALFORD; FERRISS, 2007, p.90).

 

                                                             Figura 1: Fotografias Barber’s Holiday e Cyclist’s Holiday Fonte: Alford e Ferris, 2007, p.91

Figura 1: Fotografias Barber’s Holiday e Cyclist’s Holiday Fonte: Alford e Ferris, 2007, p.91


  Reforçando o estereótipo, o filme The Wild One (O Selvagem), de 1953, com Marlon Brando interpretando o papel do “motoqueiro” Johnny Strabler, montado na Triumph Thunderbird de 650 cilindradas, e Lee Marvin no papel de Chino, rodando com uma Harley - Davidson, criaria um grande alvoroço nos Estados Unidos. O filme teria influenciado os jovens a se organizarem criminalmente, atingindo seu auge nos anos 60 e 70, além de apresentar uma perspectiva psicológica do protagonista Strabler.


Duro e rebelde, mal compreendido e sensível, Johnny, e não Chino, tornou-se o homem que representaria tudo o que fosse simultaneamente sedutor e repelente sobre o ‘motoqueiro’, que mulheres ‘foras da lei’ achavam irresistível (ALFORD; FERRISS, 2007, p.93, tradução nossa ).


  Conforme observamos, o filme reforça a alienação da juventude na época, pois não procura, necessariamente, o questionamento da ordem social.


                                                              Figura 2: Cena do filme The wild one.
Fonte: Filme The Wild One

Figura 2: Cena do filme The wild one. Fonte: Filme The Wild One


  Dessa maneira, a imagem de “motoqueiro” rebelde foi sendo plantada no inconsciente coletivo. Porém, com o movimento de “Contracultura”, desenvolvido especialmente nos Estados Unidos e na Europa, entre os anos 1956 e 1968, surge uma proposta reflexiva sobre os padrões sociais, influenciando inclusive os filmes. Nesse sentido, Pereira (1992) afirma que o movimento questionava a racionalidade ocidental, fortalecendo-se na década de 60 com o Rock n’Roll sintetizado na figura de Elvis Presley, aglutinando um público jovem que começava a fazer, deste tipo de música, a expressão de seu descontentamento e rebeldia (...). “É chamada juventude transviada, com suas gangs, motocicletas e revoltas contra os professores nas salas de aula. São os ‘rebeldes sem causa’ tão retratados, não importa se justa ou injustamente (...)” (PEREIRA, 1992, pp. 10-11).


  Um desses filmes foi o Quadrophenia, de 1979, que retratava os conflitos entre os grupos de “motoqueiros” Rockers e Mods (Modernistas), cujo personagem principal é Jimmy, um Mod interpretado por Phil Daniels. Consumidores de anfetaminas, os Mods escutavam Motown, West Indian Ska e The Who, além de possuírem cabelo curto, usarem terninho justo e andarem em scooters. Do outro lado, estavam os Rockers, dirigindo motos potentes e usando jaquetas de couro, com um visual mais largado. De acordo com Alford e Ferriss (2007), os Rockers apreciavam músicos que dividissem o mesmo interesse pelas motos, como Elvis Presley que, nos anos 50, adquiriu uma Harley-Davidson K Sport e rodou numa Honda 350 Superhawk no filme Carrossel de Emoções em 1964.


                                                                Figura 3: Os Mods usam “terninhos’ e os Rockers, jaquetas de couro preto. Fonte: Filme Quadrophenia

Figura 3: Os Mods usam “terninhos’ e os Rockers, jaquetas de couro preto. Fonte: Filme Quadrophenia


  A “Contracultura” atinge seu auge no motociclismo com o filme Easy Rider (Sem Destino), de 1969, relacionando a moto ao alcance de liberdade pessoal e, ao mesmo tempo, como essa suposta “liberdade” poderia ser o motivo pelo qual as pessoas sentiam medo dos “motoqueiros”. A trama mostra a discriminação sofrida pelos dois amigos que viajam juntos, Peter Fonda interpretando Wyatt, e Dennis Hopper, no papel de Billy, além de mostrar o movimento Hippie e enfatizar o uso de drogas pelas pessoas. Segundo Cavalcanti (2011), a trilha de Easy Rider também se consagrou na mente da população, com Born to Be Wild (Nascido para ser selvagem).



                                                                Figura 4: Os amigos Wyatt e Billy pegando a estrada. Fonte: Filme Easy Rider

Figura 4: Os amigos Wyatt e Billy pegando a estrada. Fonte: Filme Easy Rider


  Além desses “clássicos”, diversos outros filmes, seriados e músicas retrataram algum aspecto envolvendo a vida do “motoqueiro” ou de sua “moto”. No cenário atual, o seriado Sons of Anarchy (Filhos da Anarquia) faz sucesso com muitos motociclistas. Passando-se na cidade fictícia de Charming, na Califórnia, o drama criado por Kurt Sutter tem como personagens principais Jax, interpretado por Charlie Hunnam, e por Clay, estrelado por Ron Perlman, ambos presidente e vice, respectivamente, do clube de moto Sons of Anarchy. A trama mostra o cotidiano do clube, os negócios ilegais, o acobertamento da polícia mediante suborno, brigas de gangs rivais, além de apresentar como os membros do clube “resolvem” com suas próprias regras seus problemas e a conturbada relação dos “motoqueiros” com as suas famílias, que acompanham de perto o modo de vida agitado de seus entes.


                                                                Figura 5: O “motoqueiro” Jax mostra suas costas tatuadas com o brasão do clube. Fonte: Seriado Sons of Anarchy

Figura 5: O “motoqueiro” Jax mostra suas costas tatuadas com o brasão do clube. Fonte: Seriado Sons of Anarchy


  Assistindo ao seriado, podemos observar a reprodução pelo moto clube Sons of Anarchy de traços culturais de uma tradição iniciada com os clubes formados após a Segunda Guerra Mundial pelos veteranos nos Estados Unidos. Evidencia-se, por exemplo, a importância do uso do brasão do clube pelos membros, intitulando-se, portanto, moto clubes de patchSegundo Alford e Ferriss (2007), o patch trata-se da posse mais importante do membro de um clube e qualquer tentativa de privá-lo de seu uso pode ser recebida com uma agressiva hostilidade. “Os membros que desonrem o clube devem devolver o patch e, outros símbolos de pertença, como tatuagens, são apagados” (ALFORD; FERRIS, 2007, p.87, tradução nossa). Nesse sentido, o nome do clube fica em cima do colete, num patch semicircular. Embaixo, fica o nome da cidade onde se localiza o moto clube. No meio, o brasão, empregando imagens agressivas, como cabeças de mortos e espadas.


   Na vida real, um dos mais antigos clubes de patch do mundo é o Hell’s Angels, fundado em 1948, na Califórnia, formado por veteranos de guerra. Declarando-se enquanto grupo Um por Cento (1%), que “não se encaixam e não se importam”, de acordo com Thompson (1995), os Angels também usavam o emblema com o número “13” no colete, indicando uso de maconha, pois o número representa a posição da letra “m” no alfabeto. O grupo foi acompanhado pelo jornalista Hunter Thompson, que escreveu o livro: “Hell’s Angelsa Strange and a Terrible Saga”, em 1966. Elogiada pelo The New York Times Book Review, sua obra foi considerada “Uma visão de perto de um mundo onde a maioria de nós nunca ousaria entrar” (THOMPSON, 1995, p.4, tradução nossa). Em busca de estabelecer uma imagem de respeitabilidade, a  American Motorcyclist Association (AMA) , fundada em 1924, nos Estados Unidos, com a finalidade de promover e proteger o estilo de vida do motociclismo, declarou que “Eles [os Hell’s Angels] estariam condenados se pilotassem cavalos, mulas, pranchas de surf, bicicletas ou skates. Lamentavelmente, escolheram motocicletas” (THOMPSON, 1995, p.7, tradução nossa). Nesse sentido, devemos chamar a atenção para a origem do termo “fora da lei”, pois outlaw não derivava, originalmente, de clubes praticantes de atividades ilegais, mas se referia a indivíduos não integrantes da AMA, que seria uma associação oficial (ALFORD; FERRIS, 2007, p.85).


   Com a proliferação dos clubes, desenvolveu-se também sua organização hierárquica interna. Segundo Alford e Ferriss (2007), os principais cargos consistiam em presidente, vice-presidente, tesoureiro, diretoria e, no caso de viagens de grupo, um capitão, cujo trabalho era assegurar a segurança do clube, ordem e proteção na estrada. Os clubes também produziam um estatuto e estabeleciam regras de governança, guiando a conduta dos membros. Podia-se, ainda, estabelecer o tipo de motocicleta aceita, o pagamento de taxas, o atendimento a certo número de encontros por ano e a participação nas atividades do clube, além de punições para membros que falhavam e regras para se tornar membro, que incluíam um período probatório para os “prósperos”. Dessa forma, para se tornar parte do grupo, assumia-se que o clube era o foco central da vida. Segundo Alford e Ferriss (2007, p.84), havia o senso “mosqueteiro” de “brodagem”, assumindo-se que o ataque a um deles era o ataque a todos. A noção de uma hierarquia rígida e organizada evoca o passado militar da maior parte dos membros.


   Sobre a presença das mulheres nos clubes de patch, os autores afirmam: “Enquanto seja impossível generalizar sobre as atitudes dos clubes de patch em direção às mulheres – alguns membros dos Hell’s Angels tinham mulheres como membros durante os anos 50 – podemos dizer que, em geral, as mulheres estão subordinadas, se não como servas nesses clubes” (ALFORD; FERRIS, 2007, p.88, tradução nossa). Assim sendo, os clubes de patch influenciaram motociclistas em todo o mundo a fundarem outros clubes com estrutura e performance similares. Apresentando alguma razão para atuar no sentido de transmitir a impressão que lhes interessa transmitir (GOFFMAN, 2002, pp. 13-14), os “motoqueiros” desenvolveram-se dentro de uma imagem internacional de rebelião social e autodefinição e foram estigmatizados - algumas vezes, injustamente. Por fim, confirmam Alford e Ferriss (2007), “de fato, o jovem rapaz lituano rodando a cidade de Vilnius [capital da República da Lituânia] em sua Harley, mostrando suas tatuagens, obscuridades e expressão hostil nunca foi para a América ou conheceu um Hell’s Angels na sua vida. O que ele fez veio dos filmes” (ALFORD; FERRISS, 2007, p.89, tradução nossa).

 

Particularidades dos motociclistas no Recife


  Os motociclistas no Recife participam de uma manifestação cultural diferente daquela que lhe deu início: os estereótipos de violência, refletidos em vestimentas e acessórios remetentes a mistério, rebeldia e perigo, cedem lugar para aspectos mais informais e cômicos, com os motociclistas gozando de maior liberdade na escolha de sua performance. Dessa maneira, nossos motociclistas se caracterizam pela “questão do engraçado”, fazendo uso de “um colete todo enfeitado, bermuda, colar de caveira, pulseira, relógio. Ainda aparece gente com jeans rosa, marrom, azul, camisa de oncinha. Tipo, mudança de cultura total”, colocou o motociclista e membro do Moto Clube Brasil Caveira, Erick Britto. O próprio uso do colete sem manga, diferentemente dos Estados Unidos, onde arrancá-las poderia significar um ato de rebeldia, deve-se ao calor, de acordo com colocação feita pelo diretor de comunicação do Twister Moto Clube, Maxwell Fonseca.


                                                                Figura 6: Cachorrão e Fernando, usando uma “máscara” de caveira. Fonte: arquivo pessoal e acervo da pesquisadora

Figura 6: Cachorrão e Fernando, usando uma “máscara” de caveira. Fonte: arquivo pessoal e acervo da pesquisadora


  Devido a essa informalidade característica dos motociclistas no Recife, percebe-se a possibilidade de mistura de estilos. Segundo Erick Britto.


Lá [nos Estados Unidos] Jasper é Jasper e estradeiro é estradeiro. Jaspeiros são a galera que tem motos esportivas de alta cilindrada, se vestem colorido e com macacões. Os estradeiros são a galera tradicional, com motos de alta performance, com intuito de viajar. Não gosta de bagunça e curte pouca adrenalina. Aqui temos um estilo mais mesclado. Você vê Jasper usando couro e estradeiro andando de macacão e as regras de aceitação são bem diferentes (Erick Britto, membro do Moto Clube Brasil Caveira).


  Portanto, conforme percebemos, os motociclistas parecem sentir-se na liberdade de aplicar ao estilo de vida sobre duas rodas a própria personalidade, desencadeando em gêneros de música, cinema, gírias, vocabulário, comportamento, ou seja, uma comunidade de práticas (SOARES, 2014, p.36). Nesse sentido, o Road Captain (capitão de estrada) do Harley Owners-Group (HOG), André Mesquita, ressaltou que sua moto, uma Harley Road King de 1700 cc, trata-se do último modelo que o cantor Elvis Presley teve, de quem o motociclista é fã. “A gente curte motos no estilo vintage, usamos couro, agasalho, tênis All Star”, pontuou.


                                                                Figura 7: Mesquita apresenta sua motocicleta inspirada em Elvis. Fonte: acervo da pesquisadora

Figura 7: Mesquita apresenta sua motocicleta inspirada em Elvis. Fonte: acervo da pesquisadora


  Em alguns casos, existem motociclistas que possuem um triciclo no lugar da moto, sendo equiparado a uma moto no sentido de oposição ao carro. Proprietário de um triciclo caracterizado pela excentricidade, o presidente do Moto Clube Brasil Caveira, Aldemir Brasil, mostrou os adornos que pendura no seu “Caveirão”adquiridos durante as viagens que faz. O exotismo característico de seu triciclo denota uma forma de distinção. “Existe uma lógica na construção dos signos de status e nas maneiras de comunicá-los (...). A lógica que rege a apropriação dos bens enquanto objetos de distinção não é a da satisfação das necessidades, mas sim a da escassez desses bens e da impossibilidade de que outros os possuam” (CANCLINI, 1999, pp.79-80). 


Vou ganhando várias lembranças dos amigos e pendurando no meu triciclo. Tem caveira, tem máscara, tem espelho, morcego e galinha de plástico, chupeta, taxímetro, isso é, aquele relógio que tinha nos táxi antigos, tem telefone, tem estetoscópio, ferro de passar roupa a carvão, penico, chocalho usado nas vacas e também um dos primeiros celulares tijolão Motorola. E nunca foi lavado. Também não quero carro, não (Aldemir Brasil, presidente do Moto Clube Brasil Caveira).


                                                                Figura 8: Detalhes do “Caveirão”, triciclo de Aldemir Brasil.  Fonte: acervo da pesquisadora

Figura 8: Detalhes do “Caveirão”, triciclo de Aldemir Brasil. Fonte: acervo da pesquisadora


   Por outro lado, nem todos os clubes seguem essa vertente mais despojada e informal como os motociclistas apresentados. Podemos encontrar clubes como o Abutre’s, com estilo mais reservado e mais semelhante ao perfil estadunidense, ao menos quanto ao aspecto visual de ser. O presidente do Abutre’s no Nordeste, Shrek, alegou que, na América latina, os clubes Um por Cento (1 %) não seguem uma linha de criminalidade. Apesar desse relato, não deixa de ser um clube misterioso, motivo de diversas especulações por parte de outros motociclistas. No entanto, se alguém insistir em pensar “mal” deles, os Abutre’s, que são apadrinhados pelo Clube estadunidense Outlaws, afirmam simplesmente “não se importar”.


                                                                Figura 9: Membros do Abutre’ s Moto Clube cruzam os braços para foto. Fonte: acervo da pesquisadora

Figura 9: Membros do Abutre’ s Moto Clube cruzam os braços para foto. Fonte: acervo da pesquisadora


  Nesse contexto, o diretor de comunicação do Twister Moto Clube, Maxwell Fonseca, alertou que o motociclista deve ter  “bom senso” ao “importar” elementos culturais e, especialmente, ideias de seriados, pois se “10% dos moto clubes brasileiros forem se basear, por exemplo, no Sons of Anarchy para encontrar identidade e sustentabilidade, teríamos um caos instaurado”, afirmou, mencionando a criminalidade e violência da ficção. “Acho que ‘importamos’ com certo critério, evitando copiar maus exemplos no motociclismo local. Eu diria que há um amadurecimento na consciência do que não dá certo em nosso país, pela boa prática e respeito à ordem”, ensinou.


Simbologias do brasão

 

  Alguns seguem a vertente do “preto e branco”. Outros utilizam o colorido para representar seus elementos. Dessa forma, o brasão de um moto clube trata-se de um símbolo que implica “algo” além do seu significado manifesto e imediato e, de acordo com Jung (1977), tanto as palavras descritas ou as imagens nele contidas representam um aspecto inconsciente mais amplo, dificilmente de todo explicado. Em tese, o brasão resume a essência dos atributos do grupo, com a finalidade de identificar os membros. Os brasões são de diferentes formatos e estilos, podendo ser estampados nos coletes, em adesivos, em bottons, em bandeirões e em bandeirinhas. Porém, certamente, o principal uso do brasão está no colete, que o motociclista veste e carrega consigo.

 

                                                                Figura 10: Brasão do Kansas Clube Leões do Asfalto e Veteran Moto Clube.
Fonte: acervo da pesquisadora

Figura 10: Brasão do Kansas Clube Leões do Asfalto e Veteran Moto Clube. Fonte: acervo da pesquisadora



                                                                Figura 11: “Bandeirões” onde podemos conferir os brasões dos clubes.
                                                    Fonte: acervo da pesquisadora

Figura 11: “Bandeirões” onde podemos conferir os brasões dos clubes. Fonte: acervo da pesquisadora



                                                                Figura 12: Colete do presidente do Órion Moto Grupo, Zózimo Costa, repleto de bottons/ O exemplo de um patch bordado do Moto Clube Ouriços do Asfalto/ Adesivo do Moto Clube de Alexandre Vovô, o Filho dos Ventos. Fonte: acervo da pesquisadora

Figura 12: Colete do presidente do Órion Moto Grupo, Zózimo Costa, repleto de bottons/ O exemplo de um patch bordado do Moto Clube Ouriços do Asfalto/ Adesivo do Moto Clube de Alexandre Vovô, o Filho dos Ventos. Fonte: acervo da pesquisadora


  Cada um dos brasões acima apresentados possui símbolos com significados específicos. No caso do Moto Clube Comando do Asfalto, seus elementos simbólicos se espelham no filme “Homens de Honra”, que conta uma “história de luta, perseverança e determinação, cuja convivência faz nascer um respeito mútuo entre os homens”, explicou o presidente do Comando do Asfalto/ facção Caruaru, Sósteles Filho. O brasão deste clube apresenta as cores amarelo, que significa ouro e riquezas, e o preto, a cor negra do asfalto. Por sua vez, as listras amarelas representam as patentes militares. “Os três em ‘v’ representam o exército, a marinha e a aeronáutica e tem o arco, que simboliza a união das três forças e o motociclista representa o motociclismo”, completou.


                                                                Figura 13: Brasão do Moto Clube Comando do Asfalto. 
                                                              Fonte: acervo da pesquisadora

Figura 13: Brasão do Moto Clube Comando do Asfalto. Fonte: acervo da pesquisadora


  Conforme percebemos na foto acima, o brasão usado na parte de trás do colete se chama brasão patch. Existem, ainda, no colete, os pequenos brasões de outros moto clubes, sendo afixados porque são considerados clubes parceiros ou, então, padrinhos. Normalmente, estes são colocados na altura da cintura, na parte de trás do colete. No entanto, nem todos os motociclistas seguem essa prática, seja por não acharem esteticamente bonito, seja porque acreditam estar fazendo uma propaganda de outros moto clubes. Entre os motociclistas, existe a ideia de que o colete é intransferível, sendo sua “segunda pele”, o que ocorre especialmente porque nele está estampando o brasão que identifica o clube. “O colete é tão pessoal quanto escova de dente. Pedir emprestado é uma tremenda gafe. Sem ele, as pessoas não vão saber quem sou eu”, afirmou uma motociclista.

 

  Dada a importância do brasão para a comunidade motociclística, ele não pode ser usado por qualquer pessoa, pois ela precisa merecê-lo. Em determinado caso, devido ao fato de membros antigos já não estarem compartilhando os “mesmos ideais do grupo”, a nova presidência de certo moto clube trocou as cores preto e branco do brasão para o estilo colorido. Em nota via Redes Sociais, foi anunciado que não fossem mais aceitos como membros os motociclistas sem o novo emblema. “Nossa ideia foi tentar aproximar mais essas pessoas, que elas viessem até a gente, porque não adianta dizer que é do clube sem participar”, esclareceu um dos membros deste moto clube.

 

  Porém, apesar de estarmos aqui apresentando a relevância do brasão para cada clube, parece contraditório o fato de muitos motociclistas desconhecerem a história e os símbolos contidos nele. De um lado, existem os motociclistas desinformados ou desinteressados. Em alguns casos, poderíamos dizer que usam o brasão do clube tal qual um “abadá festivo” apenas para diversão. “Pega aqui uns quatro motoboys de uma farmácia e faz um moto clube com o nome da empresa”, criticou um motociclista a banalidade da formação de alguns grupos. De outro lado, existem os motociclistas que não compreendem os símbolos do brasão em sua completude por esquecimento. Inclusive, a própria presidência, muitas vezes, também desconhece os elementos do brasão, especialmente se ele não for o fundador.  

 

  Ademais, o brasão de um moto clube pode indicar também o status no grupo do motociclista que o utiliza. No caso do Comando do Asfalto, os membros garupa não usam a faixa com o nome do moto clube Comando do Asfalto acima do brasão na parte de trás do colete. Seu brasão é menor e contempla o nome do moto clube apenas no seu interior. Saliente-se, ainda, que o membro garupa acompanha o mesmo nível de evolução do colete que seu companheiro (a) membro. O tema será abordado mais a frente, mas, em síntese, no caso da garupa Vanda, como seu companheiro Orlando já é o que se denomina de membro escudado ou de colete fechado, o colete dela também será escudado, porém com as devidas adaptações por ela ser garupa. Neste caso, o colete escudado caracteriza-se pelo fato de possuir tanto o brasão do clube, como conter a faixa com o nome Comando do Asfalto, acima do brasão. Nesse contexto, afirmou Turner (1974):

 

 

Cada elemento simbólico relaciona-se com algum elemento empírico de experiência. Um único símbolo representa muitas coisas ao mesmo tempo, é multívoco e não unívoco. Seus referentes são todos da mesma ordem lógica e sim tirados de muitos campos da experiência social e de avaliação ética (TURNER, 1974, p.71).


                                                                Figura 14: Casal Vanda e Orlando mostra diferença entre seus brasões. 
Fonte: acervo da pesquisadora

Figura 14: Casal Vanda e Orlando mostra diferença entre seus brasões. Fonte: acervo da pesquisadora


  Estando no colete, nas bandeirinhas, nos bandeirões, nos bottonsou nos adesivos, os brasões identificam os motociclistas, tornam-nos únicos perante os demais, podendo indicar, ainda, o seu status. Além disso, os motociclistas não se permitirão usar o brasão do seu moto clube enquanto cometem atos que denigram a imagem do clube, correndo o risco de sofrer represálias ou punições. Dessa forma, o brasão também tem a função de ordenador social.

 

 

Batizados dos motociclistas

 

  Ele tem um propósito um tanto quanto espiritual e civilizador, ainda que utilize violência em alguns de seus ritos. Engloba simbolismos que remetem a um período específico de transição da vida humana, libertando o motociclista de um estado de imaturidade e de prisão, fazendo com que progrida para um estágio superior de sua evolução dentro do grupo. Esse processo, conhecido como “batizado” ou “batismo”, ocorre entre os motociclistas manifestando-se de formas e em níveis diversos. Durante a pesquisa, pude acompanhar o batizado de membros de dois moto clubes distintos. Trata-se dos Moto Clubes Mulheres na Estrada e o Comando do Asfalto.  

 

  Batizar um membro representa um ritual de passagem, que incorpora um motociclista ao grupo. Turner (1974) cita Van Gennep ao definir ritos de passagem, sendo o que acompanha toda mudança de lugar, estado, posição social e idade. Esses ritos de transição, para Gennep, caracterizam-se pelas fases de “separação”, “margem” e “agregação” (TURNER, 1974, pp. 116-117). A fase de separação abrange o comportamento simbólico que significa o afastamento do indivíduo ou de um grupo, quer de um ponto fixo anterior na estrutura social, quer de um conjunto de condições culturais (um estado), ou ainda de ambos. Neste momento, o indivíduo ainda não pertence ao clube, mas procura se agregar a um deles, pensando assumir uma nova identidade.  Uma vez que o motociclista encontra um clube com o qual deseja “rodar” e passa a fazê-lo, entramos na fase de “margem”, período limiar intermediário, cujas características do sujeito ritual (o transitante) são ambíguas; passando através de um domínio cultural que tem poucos ou quase nenhum dos atributos do passado ou do estado futuro.   

 

  Neste segundo momento, o motociclista já está “rodando” com o grupo aspirado, conhecendo sua rotina e sendo avaliado pelos membros e pela diretoria para, posteriormente, ser ou não aceito em definitivo. Em alguns clubes, os “aspirantes” já são considerados membros, como no caso do Moto Clube Comando do Asfalto; em outros, ainda não, como no caso do Abutre’s Moto Clube, em que um parceiro ainda estaria “namorando o clube”. Dessa forma, durante o período em que os candidatos lutam pelo fechamento de seu colete, seu comportamento caracteriza-se por ser passivo e humilde, com os liminares acatando seus instrutores e sanções sem queixa, devido ao receio de não serem aceitos.  

 

  Nessa fase, segundo Turner (1974), suas características e personalidade são moldadas pelo grupo; em alguns casos, são mesmo oprimidas, para serem remodeladas e postas de volta à sociedade com uma nova percepção de vida. “O que existe de interessante com relação aos fenômenos liminares no que diz respeito aos nossos objetivos atuais é que eles oferecem uma mistura de submissão e santidade, de homogeneidade e camaradagem” (TURNER, 1974, p.118). O autor ainda afirma que o neófito na liminaridade deve ser uma lousa em branco, na qual se inscreve o conhecimento e a sabedoria do grupo, nos aspectos pertinentes ao novo status (TURNER, 1974, p.127). Portanto, percebemos que o motociclista liminar apresenta, em regra, atributos ambíguos, pois “não estão nem aqui, nem lá”, e sua condição escapa a uma rede de classificações. Nesse ponto da evolução do colete, portanto, há uma espécie de ausência de status em relação ao membro escudado.

 

Tais fases e pessoas podem ser muito criativas em sua libertação dos controles estruturais, ou podem ser consideradas perigosas do ponto de vista da manutenção da lei e da ordem. A ‘communitas’ é um relacionamento não estruturado que muitas vezes se envolve entre “liminares”. É um relacionamento entre indivíduos concretos, históricos, idiossincrásicos. Esses indivíduos não estão segmentados em funções e “status” mas encaram-se como seres humanos totais (TURNER, 1974, p.5).


  Passada essa fase, se decidido que o motociclista terá seu colete fechado, ele será submetido, então, ao ritual de passagem. O sujeito ritual permanece num estado relativamente estável mais uma vez e, em virtude disto, tem direitos e obrigações perante os outros de tipo claramente definido e estrutural, esperando-se que se comporte de acordo com certas normas costumeiras e padrões éticos, que vinculam os incumbidos de uma posição social, num sistema de tais posições. Então, ocorre o chamado “batizado” do membro, realizado num contexto de clima de festa e confraternização, reforçando as definições sociais do grupo, participando dele os motociclistas do próprio clube, alguns familiares e, em alguns casos, os amigos próximos. Não representa, em regra, um procedimento sigiloso, e pode ocorrer tanto na sede do moto clube ou em um lugar determinado de comum acordo com o grupo. 

 

  No Moto Clube Mulheres na Estrada, a presidente Camilla Vazquez explicou que a entrada de membros ocorre primeiramente na condição de “iniciante”, nível simbolizado com as motociclistas usando uma camiseta simples (uma camisa básica preta, de manga curta, com o brasão do moto clube estampado na altura do peito para identificar a motociclista). Neste momento, a motociclista é conhecida pela condição de “aspirante”. Após o cumprimento de estágio probatório, frequências nas reuniões e viagens de moto em grupo, o membro poderá ser batizado, recebendo, finalmente, seu colete, com um mini brasão patch estampado na parte da frente, juntamente com nome e tipo sanguíneo, tornando-se “próspera”.

 

  Entãoapós mais um tempo de experiência determinado pelo estatuto do moto clube, a motociclista será graduada em outra cerimônia, chamada de “fechamento de colete”, quando recebe o brasão do clube na parte de trás do colete, tornando-se a motociclista “escudada”. “No fechamento, toda a diretoria deve estar presente, embora estejamos sempre juntas. No nosso moto clube, fazemos uma brincadeira, a qual a pessoa tem que cumprir, senão não recebe o patch”, colocou Vazquez. Lembrando que o Moto Clube Mulheres na Estrada caracteriza-se por ser um clube apenas de mulheres.

 

  Por seu turno, no Moto Clube Comando do Asfalto, o filiante recebe o título de “aspirante” quando entra no clube, ficando sujeito a diversas avaliações. Neste momento, usa apenas um colete liso, com seu nome, tipo sanguíneo e um pequeno brasão na altura do peito. Após algumas avaliações, entre as quais estão as considerações sobre frequência, comportamento e personalidade do membro, o motociclista torna-se um “próspero” ou colete “semi - aberto”, passando a carregar na parte de trás do colete a faixa com o nome do moto clube. Por fim, o batizado deverá ocorrer no ato do fechamento do colete, quando se coloca na parte de trás do colete o brasão patch, tornando-se colete fechado. Dessa forma, a concepção de que o “batizado” de um motociclista traça uma nova etapa da vida dessa pessoa no grupo parece ser unânime, mas o momento e a forma em que ocorre varia segundo as normas de cada moto clube.

 

 

  Expostos como se dão os procedimentos de evolução das etapas de colete, como os moto clubes batizam seus membros? No Moto Clube Mulheres na Estrada, acompanhamos a cerimônia de batismo da motociclista Paloma França, hoje membro já escudado do clube. Sua “prenda” foi correr até o final da rua segurando um pneu rosa na cintura, como um bambolê. No aguardo do seu retorno, estava sua madrinha, também motociclista, Cris Maciel, convidada pela presidente do moto clube para entregar o colete com o patch na frente do colete para Paloma, conforme podemos conferir na fotografia a seguir. 


                                                                Figura 15: Batizado de Paloma do Mulheres na Estrada. 
  Fonte: acervo da pesquisadora

Figura 15: Batizado de Paloma do Mulheres na Estrada. Fonte: acervo da pesquisadora


  Por seu turno, o batizado no Moto Clube Comando do Asfalto deve seguir os seguintes critérios, estabelecidos em seu estatuto: os membros de colete fechado e da diretoria, além do próprio padrinho (aquele membro que convidou o motociclista para participar do clube, tendo este que ser escudado para poder convidar), formam um semicírculo ao redor daqueles que serão batizados, devendo os futuros escudados estarem sentados em cadeiras. Na ocasião da pesquisa, fechavam o colete dois motociclistas: Felix e Carlos. Dessa maneira, os motociclistas que executavam o ritual pegaram garrafas de refrigerante e um balde, enchendo alguns com água e outros com terra, falando em voz alta três vezes o grito de guerra: “Na terra, no mar ou no alto, Comando do Asfalto!”. Então, derramaram o conteúdo dos recipientes nos motociclistas. No Comando do Asfalto, a cerimônia de batismo coincidiu com seu 8º aniversário, no ano de 2013.


                                                                Figura 16: Batizado de membros do Moto Clube Comando do Asfalto. 
Fonte: acervo da pesquisadora

Figura 16: Batizado de membros do Moto Clube Comando do Asfalto. Fonte: acervo da pesquisadora


  Além de conferir ao motociclista o reconhecimento do grupo e da comunidade, o fechamento do colete de um membro ainda pode lhe dar status. Em moto clubes onde a hierarquia possui força, os membros escudados apresentam prerrogativas perante os demais, como ocorre no Abutre’s Moto Clube. Com fortes características militares, os motociclistas que aguardam o fechamento de seu colete devem realizar as atividades manuais referentes às necessidades do grupo, servindo os escudados. “Um dia, quando alcançarem o colete fechado, eles estarão em nosso lugar”, afirmou o administrador-financeiro do Abutre’s, Roberto Cortez. No caso do Abutre’s Moto Clube, “todo ano, os Abutre’s de todo o Brasil vão para São Paulo para serem escudados. Se faltarem a essa data, terão que esperar o próximo ano pra serem batizados”, explicou Cortez.

 

  Portanto, conforme se percebe, cada moto clube possui sua maneira de celebrar a passagem dos seus membros. Diante de levantamentos realizados, provavelmente o mais inusitado seja o mito de que certo moto clube obriga as pessoas a beberem gasolina. Sobre esse “suposto” moto clube, uma fonte desmistificou o relato de que realmente forcem o novo membro a ingerir combustível. “É mel. Só que na pressão e na catinga da gasosa no ar, e todos fazendo barulho, o novato acha que vai beber gasolina mesmo. É fumaça, zoada de motores e o pessoal gritando: bebe, bebe, bebe...”, comentou. E completou: “Melaço parece óleo queimado e doce de mamão parece graxa”.

 

  Nesse contexto, o mesmo entrevistado ainda revelou: “Eu conheço moto clube e moto grupo que botam os novatos à prova de fogo, com arma colocada na cabeça para brincar. Sou contra isso”, frisou. Quebrar ovos na cabeça dos novos membros e formar um corredor polonês para que a pessoa leve várias “surras” ainda são algumas “brincadeiras” aplicadas por moto clubes, respectivamente, do Órion Moto Grupo e do Nórdicos Moto Clube.

 

“Estranhamento” e interação com a cidade


   Os motociclistas estabelecem diferentes níveis de relação com a cidade, apropriando-se simbolicamente dos seus espaços geográficos, a partir da diferença cultural, da memória histórica e da organização social (GUPTA; FERGUNSON, 2000, p.30). Além disso, eles também interagem com os citadinos, despertando-lhes sentimentos que vão desde a “admiração” até a “discriminação”. É quando percebemos a ocorrência de respostas mentais e, inevitavelmente, comportamentais, dos habitantes das cidades ao que lhes parece ser de “um mundo exterior”. Num processo de mútuas influências, redes de sociabilidades são construídas a partir do triângulo: motociclistas, citadinos e a própria cidade. 

 

  Na cidade, as ruas resgatam a experiência da diversidade, possibilitando a presença do forasteiro, o encontro entre desconhecidos, a troca entre diferentes, o reconhecimento dos semelhantes, a multiplicidade de usos e olhares (MAGNANI, 2003, p.3). Para Magnani (2003), a rua não opera com significados unívocos, mas com sistemas de relações. Portanto, não se fala na rua “em sua materialidade”, mas em “experiência da rua”, uma vez que ela passa a não ser vista como mero espaço de circulação, mas de suporte de sociabilidade. Na sua “experiência da rua”, o motociclista Maluquinho, do Moto Clube Solouquinho do Asfalto, revelou já ter enfrentado situações constrangedoras ao ser barrado na entrada de banco. “No colete, tem um monte de ‘coisa’ de ferro. Por mais que eu tire tudo, celular, carteira, chaveiro, moeda, ainda vai apitar, porque o colete é cheio de bottons. Mas, eu não tiro não. Meu colete é minha segunda pele”, afirmou. Sobre a “experiência da rua”, frisa Magnani (2003).

Talvez se descubra, por exemplo, que para determinados grupos e faixas etárias e em determinados horários seja o espaço do Shopping Center que ofereça a experiência da rua; para outros, recantos do centro como galerias e imediações de certas lojas é que constituem o local de encontro, troca e reconhecimento; na periferia, um salão de baile nos fins de semana, ou a padaria no final do dia são os pontos de aglutinação; às vezes, um espaço é hostil ou indiferente durante o dia, mas acolhedor à noite (MAGNANI, 2003, p.4).


                                                                Figura 17: Aumento no número de motos na cidade. 
Fonte: acervo da pesquisadora

Figura 17: Aumento no número de motos na cidade. Fonte: acervo da pesquisadora


  Por seu turno, reunindo-se numa lanchonete pequena ao lado de um restaurante, o Moto Clube Comando do Asfalto chegou a ter problemas com a gerência do restaurante por estacionar as motos na rua ao lado do estabelecimento, devido a possíveis críticas de clientes. “Tipo, lá não tem vaga marcada, é rua né? Quem chegar que pegue sua vaga”, colocou Edwan Sousa, vice-presidente do clube. Já essa “experiência da rua” para o Moto Clube Brasil Caveira, por exemplo, ocorre especialmente aos domingos em sua sede, no bairro do Engenho do Meio, no Recife, conhecida como “Cemitério dos Caveiras”, considerada por alguns motociclistas como o “Marco Zero do motociclismo”, onde há confraternização entre os “irmãos” de diversos clubes. Chamando a atenção da comunidade do entorno especialmente pela decoração, que inclui duas “caveiras” pintadas no muro, o espaço repleto de motos e motociclistas denota imagens de ruptura e disjunção aos olhos “destreinados” dos passantes. Nesse sentido, destacam-se os ensinamentos de Langdon (1996), que afirma:


Se o indivíduo lhes for desconhecido, os observadores podem obter, a partir de sua conduta e aparência, indicações que lhes permitam utilizar a experiência anterior que tenham tido com indivíduos aproximadamente parecidos com este que está diante deles ou, o que é mais importante, aplicar-lhes estereótipos não comprovados. Podem também supor, baseados na experiência passada, que somente indivíduos de determinado tipo são provavelmente encontrados em um dado cenário social (LANGDON, 1996, p.11).


                                                                Figura 18: Sede do Brasil Caveira impressiona pelo muro pintado com duas caveiras. 
                                                                  Fonte: acervo da pesquisadora

Figura 18: Sede do Brasil Caveira impressiona pelo muro pintado com duas caveiras. Fonte: acervo da pesquisadora


  Para Gupta e Fergunson (2000, p.30), a premissa da descontinuidade configura o ponto a partir do qual são teorizados o contato, o conflito e a contradição entre culturas e sociedades. Portanto, o compartilhamento de um mesmo espaço, no mínimo de passagem, converge para uma problemática que se embasa na percepção da distinção de duas culturas proeminentes: a dos motociclistas e a dos moradores das comunidades do entorno e demais passantes. “As pessoas passavam se benzendo aqui na frente, achando que era macumba”, afirmou Caveira. Diante desse caso, podemos perceber a aplicação do conceito de “pórtico” pensado por Magnani (1998), referindo-se justamente aos espaços da paisagem urbana por onde passam pessoas que os consideram “lugares de perigo” e, muitas vezes, por serem “sombrios”, precisa-se cruzar rapidamente, sem olhar para os lados.  

 

  Devido ao estereótipo provocado pelos simbolismos utilizados pelo Moto Clube Brasil Caveira, o clube ainda se envolveu num episódio que marcou diversos outros motociclistas e moto clubes, o que envolveu uma denúncia de leitor feita ao Jornal do Commercio, em 22 de agosto de 2011. Segundo este leitor, com o consentimento da direção de uma escola, o Moto Clube Brasil Caveira teria se “apossado do muro [da escola] para fazer apologia à violência”. Segundo o texto da denúncia do leitor.


A violência nas escolas públicas do Recife, Olinda e Jaboatão dos Guararapes já passa dos limites. Surgem pessoas disseminando o ódio como acontece na escola estadual Carlos Alberto, no Prado. Um grupo denominado Brasil Caveira, com o consentimento da direção da escola, já se apossou do muro para fazer apologia à violência (Jovens estimulam violência em escola no Prado. Jornal do Commercio, Voz do leitor JC, 22 de agosto de 2011).

  Depois dessa divulgação, houve quase uma comoção entre os grupos de motociclistas, saindo em defesa do Moto Clube Brasil Caveira. Na época, em 2011, recebi um desses desabafos em minha caixa de e-mail. Tratava-se do posicionamento da motociclista Mel Nascimento, afirmando no título do e-mail: “Informação distorcida dos nossos amigos do MC Brasil Caveira” e, logo em seguida, no corpo do texto, prosseguiu: “Como um jornal sério poderia colocar algo sem ao menos se informar melhor?”. Para ela, se o veículo de comunicação tivesse entrado no site que consta na foto da denúncia, teria visto que não se trata de nenhuma apologia. “A caveira é o símbolo da igualdade. Quando a gente morre, não tem rico, nem pobre, nem negro, nem branco. Todos viramos caveira”, esclareceu Aldemir Brasil. Mas, não foi apenas a motociclista que se sentiu incomodada com a denúncia. Outros motociclistas se uniram pela defesa do Brasil Caveira, o que culminou no direito de resposta:


Brasil Caveira motoclube responde a leitor e destaca ações sociais e culturais
Em relação à carta do leitor Francisco Mendonça, a presidência do Brasil Caveira MC refuta qualquer tipo de apologia à violência. Ao contrário, o motoclube existe exclusivamente como forma de estimular a união entre os motociclistas do País, pregando a fraternidade, amizade e companheirismo. O grupo é responsável por ações sociais na Zona Oeste do Recife, como arrecadação de alimentos para vítimas de enchentes, bingos beneficentes e produção de eventos culturais. Inclusive o Brasil Caveira acaba de fechar parceria com a Creche Escola Maria de Nazaré, em Jardim Paulista, para arrecadar donativos. A presidência do Brasil Caveira Motoclube se coloca à disposição de qualquer pessoa que queira tirar dúvidas e contribuir com suas ações sociais (Brasil Caveira motoclube responde aleitor e destaca ações sociais e culturais. Jornal do Commercio, Voz do Leitor JC, 24 de agosto de 2011).


  Conforme percebemos, mesmo os motociclistas distantes fisicamente, outros instrumentos virtuais, mediáticos e simbólicos agiram no sentido de marcar a relação afetiva entre eles, no caso, com o uso de e-mail e o direito de resposta no Jornal. Gupta e Fergunson (2000) reforçam esse pensamento, afirmando não considerarem o sentido de comunidade ou localidade limitado a formas de solidariedade e identidade em que a contiguidade dos espaços e o contato pessoal sejam fundamentais. Portanto, percebe-se que a imagem distorcida pela qual os motociclistas são percebidos ameaça sua identidade, correndo o risco de ser apagada. 

 

  A relação com a cidade e, em especial, com a comunidade do entorno da sede do Moto Clube Brasil Caveira, ressalta-se ainda mais quando o grupo deseja realizar uma programação festiva no Cemitério dos Caveiras. Para isso, necessita da autorização e assinatura dos moradores para fechar a rua. Segundo o presidente, Aldemir Brasil, já houve ocasiões de a “prefeitura desconfiar e bater de porta em porta perguntando se a assinatura seria mesmo das pessoas”, colocou. Dessa maneira, percebendo que seu modo de vestir e o estilo de vida dos motociclistas, especialmente devido ao uso do colete preto, induzia as pessoas a terem reações negativas, Brasil passou a trazer os moradores para perto de si com campanhas sociais.

 

  Essa iniciativa também tem sido adotada por boa parte dos moto clubes, alguns dos quais inseriram essa necessidade nos próprios estatutos.  No caso do Brasil Caveira, entre outras ações, todo ano o grupo promove o Café da Manhã para o Dia das Mães, voltado para a comunidade do entorno, sorteando diversos presentes em um Bingo, como ventiladores, panelas e garrafas térmicas. As doações são feitas também pelos moto clubes parceiros, que também se envolvem na programação. Por sua vez, também atuante em causas sociais, o motociclista Nilson Cachorrão, que distribui alimentos e agasalhos para os necessitados, pensa no gesto como uma maneira de a sociedade respeitar mais os motociclistas, que são discriminados. “A sociedade pode ser injusta, pois não procura saber o que é o motociclismo e já vai julgando. Acho que isso é cultural e está presente na maioria das pessoas que desconhece”, afirmou. Uma iniciativa tomada pelos moto clubes quando promovem festas está em solicitar a doação de 1 kg alimento não perecível aos motociclistas visitantes, revertendo o arrecadado a instituições sociais. 


                                                                Figura 19: Brasil Caveira faz bingo no Dia das Mães. 
Fonte: acervo da pesquisadora

Figura 19: Brasil Caveira faz bingo no Dia das Mães. Fonte: acervo da pesquisadora


  Além disso, tornando mais evidente a diferença entre os comportamentos do “motoqueiro” e do “motociclista”, existem clubes de moto que atuam em parceria com órgãos públicos. No caso do Twister Moto Clube, o presidente Felipe Péricles revelou a preocupação do grupo em relação à educação no trânsito, tornando-se o seu moto clube colaborador em programas educativos junto ao Departamento Estadual de Trânsito em Pernambuco (Detran/PE) e ao Comitê de Prevenção aos Acidentes de Moto em Pernambuco (CEPAM). Nesse sentido, o diretor de comunicação do grupo, Maxwell Fonseca, ressaltou que o Twister procura divulgar as campanhas dos órgãos inclusive pelos canais de comunicação, como site e Rede Social.  Dessa forma, a participação dos motociclistas em ações sociais e em campanhas de educação no trânsito representam uma espécie de luta pela preservação de sua autonomia em face “das esmagadoras forças sociais, da herança histórica, da cultura externa e da técnica de vida” (SIMMEL, 1987, p.11). É desse modo, portanto, que conseguem se aproximar dos “metropolitanos reservados e autopreservados”, segundo Simmel (1987).

 

  Nesse sentido, no ano de 2014, a relação dos motociclistas com a sociedade tornou-se mais forte, por causa das eleições: pela primeira vez, houve a tentativa de o motociclismo pernambucano ser representado politicamente. O presidente do Moto Clube Brasil Caveira, Aldemir Brasil, saiu como candidato pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB) a deputado estadual. Nunca tendo ocupado um cargo político antes, as suas pautas abordaram tanto as problemáticas que o motociclismo enfrenta hoje como outras questões, mais amplas da sociedade. Entre elas, procurou dar especial atenção às condições das vias urbanas, além da preocupação com pedestres, ciclistas e condições de transportes públicos. A ideia era que, por meio da representatividade política de uma pessoa, as necessidades dos demais motociclistas fossem ouvidas e, se possível, atendidas. 

 

  Brasil não venceu a candidatura, mas criou uma comoção entre boa parte dos motociclistas do Estado, promovendo motociatas (passeatas de motos) para a sua campanha eleitoral, gerando um impacto visual nas pessoas nas ruas. Vendo aquele comboio de motociclistas, algumas chegaram até a pensar se tratar de uma “greve de mototaxistas”, o que aponta a necessidade de maiores esclarecimentos sobre quem são os motociclistas. Apesar dessa candidatura, os motociclistas não costumam se manifestar, enquanto coletividade, a favor de um partido ou de outro. Sua luta se debruça, na realidade, no intuito de que a sociedade os reconheça enquanto “motociclistas” e entenda o sentido de oposição ao conceito de “motoqueiros”. Portanto, o espaço urbano não pode ser visto apenas como pano de fundo, mas existem evidências de uma cidade de fato vivida, sentida e em processo, com formas de rompimento, continuidade ou de mudança tomando conta dos espaços urbanos, sendo os aspectos visuais dos motociclistas preponderantes na construção dessas impressões.


Conclusões

  Os aspectos visuais mais relevantes característicos do habitus dos motociclistas reunidos no espaço social dos clubes de motos no Recife foram o cerne deste artigo. Sabe-se que, ao adotarem simbologias e aderirem a performances peculiares em sua vestimenta e comportamento, os motociclistas causam diversas impressões. Portanto, identificamos na cinematografia estrangeira dos anos 50 e 60 a fonte primordial de espelhamento para a seleção do modo de se mostrar dos motociclistas, bem como dos rituais e símbolos por eles adotados.  Posteriormente, vieram as adaptações dos clássicos em filmes e seriados atuais, aumentando essa influência. Ao mesmo tempo, fica evidente que a cultura onde se vive exerce fortes influências no “eu” do sujeito estudado, passando a prática do motociclismo a ter outra roupagem: no Recife, impera a possibilidade da mistura de estilos, com os motociclistas livres para adotarem a performance desejada, sendo esta embasada na informalidade e, na maior parte dos casos, no propósito da “brincadeira”. A maior parte dos clubes, nesse sentido, são denominados de hobby e não de estilo de vida, como é o caso do Abutre’s.

 

  Depois dessa contextualização, concentramos o estudo no significado do colete preto usado pelos motociclistas, sendo este sua intransferível “segunda pele”, um indício claro de distinção entre os motociclistas e os “meros” condutores de moto ou ainda os “motoqueiros”. Os brasões dos clubes também foram pesquisados, sendo estes verdadeiros ordenadores sociais, no sentido de que coíbem os motociclistas de tomarem atitudes incorretas no trânsito ou na estrada, pelo próprio receio de prejudicar o grupo ou de sofrer punições. Em seguida, foi estudada a noção de ritual de passagem impressa nos batizados de motociclistas, cujo período de avaliações, frequências em viagens e reuniões e comportamentos regrados culminam no ato de celebração. Por fim, procuramos apresentar a relevância do estudo dos aspectos visuais referentes às subjetividades de motociclistas em termos das impressões causadas nas pessoas, estas reagindo de diversas maneiras ao modo com que os motociclistas se “mostram” na sociedade.

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