A revista Visagem chega à sua segunda edição. E que venham muitas outras, pois estamos dedicados e comprometidos com sua consolidação, para fomento e divulgação das pesquisas nestes campos que fascinam a todos nós: antropologia, imagem, pessoas, sentimentos. Antes de qualquer coisa, devemos agradecer a todos que enviaram trabalhos para submissão, foram dezenas de pesquisadores, pesquisadoras e estudantes... pessoas que acreditam em nosso periódico em nossa proposta. Todos nós, da Equipe Editorial, enviamos daqui um sincero ‘muito obrigado’, sintam-se, todos e todas, verdadeiramente abraçados. E como não poderia deixar de ser, um grande agradecimento aos pareceristas que, carinhosamente, arrumaram um espaço em suas agendas sempre apertadíssimas, para analisar de forma coesa e precisa todos os trabalhos.
Para esta edição temos algumas novidades. Como o ‘batizado’ das seções da revista com os nomes de professores e professoras que fazem parte da história da Antropologia na Universidade Federal do Pará e na Amazônia. Alguns não estão mais conosco, próximos como gostaríamos, mas seus nomes estão gravados em nossas pesquisas, corações e lembranças. Deixo para que descubram o nome deles e delas quando estiverem navegando pela revista. Devo dizer que cada nome foi pensado com muito carinho, respeito e admiração por toda equipe. Queríamos mais seções para termos mais nomes que, nos doendo, ficaram de fora... daremos um jeito nas próximas edições.
Devemos, ainda, um agradecimento especial ao professor Luiz Eduardo Robinson Achutti que, desde a formação da revista, é nosso grande incentivador e parceiro. Para este número, temos um conjunto de vinte fotografias suas feitas em duas regiões quilombolas distantes 50 km da cidade de Porto Alegre, RS para a pesquisa “Etologia do sono humano: um estudo do processo evolutivo do sono em ambientes de luz natural e artificial”. Uma de suas belíssimas fotografias é nossa capa para esta edição, o que muito nos honra.
E por falar em pessoas especiais, no mês de maio, ficamos um pouco mais órfãos, aqui na UFPA, pois perdíamos nossa querida Eneida Assis, uma das grandes etnólogas do Brasil. Uma guerreira pelas causas dos povos indígenas, principalmente pela educação escolar e saúde. Como homenagem, nossa seção de Vídeos, para esta edição, é composto exclusivamente com produções feitas por indígenas, amigos seus, que foram convidados pelo GEPI (Grupo de Estudos sobre Populações Indígenas), grupo fundado e coordenado pela própria Eneida, para compor a seção. São cinco vídeos que mostram o protagonismo dos que sabem falar, e produzir, por si só, falando de sua cultura, suas alegrias e, também, decepções acerca dos não-indígenas.
Na seção de Artigos, temos sete trabalhos muito interessantes. Igor Karim, em “Pare, que estou filmando!” Corporeidade e produção cinematográfica nas relações entre a câmera e o cacetete, nos fala dos processos técnicos envolvidos na relação entre um cameraman e a tropa de choque durante a filmagem de protestos violentos na Romênia, utilizando como base uma etnografia de operadores de câmera a partir de suas técnicas corporais. Luiz Adriano Daminello, Entre ciência e arte: o método etnográfico do cinema de Jean Rouch, trata das influências artísticas e científicas que embasaram a criação do método de abordagem etnográfico conhecido como “cinema verdade”, utilizado por Jean Rouch, que produziu uma enorme quantidade de filmes relevantes do cinema etnográfico. Anselmo Paes traz em seu artigo Fronteiras borradas: materialidades e imagens de artefatos e práticas votivas no Círio de Nazaré uma reflexão sobre os artefatos votivos e sua experiência durante o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém do Pará, para ele os limites restritos entre artefato e ação, paisagem e indivíduo, objeto e pessoa, se tornam indefinidas, suas fronteiras borradas. Larissa fortes, A representação do segredo ritual para as religiões afro-alagoanas e suas relações com os meios de registro etnográficos, a partir de seu ensaio fotográfico onde registra um ritual de iniciação no candomblé, busca entender a representação do segredo para as comunidades de matriz africana em Alagoas e as barreiras encontradas no acesso a informações, cerimônias e rituais e as negociações tecidas entre pesquisadores e religiosos. Renan da Silva investiga, em seu artigo Quadrinhos e sociedade: Uma investigação sobre o potencial expressivo da linguagem das histórias em quadrinhos, a formação social das histórias em quadrinhos para, a partir daí, problematizar concepções sociais arraigadas sobre essa linguagem e seus potenciais expressivos, socialmente estigmatizados como um ramo menor entre as manifestações expressivas. O artigo de Jesus Mamanillo e Natalia Texeira, Uma Praça chamada Brasil: cotidiano urbano imperatrizense nos territórios da Praça, mostram aspectos do cotidiano urbano tendo como ponto de partida a Praça Brasil, um espaço de lazer, concentração de trabalhadores do comércio de rua e distração localizada no centro da cidade de Imperatriz/MA, buscando lançar reflexões a partir de determinados momentos da história urbana de Imperatriz. Francisco Ribeiro Neto e Milton Ribeiro, em “Está chovendo homem” Strip-tease, masculinidades e performances no filme Magic Mike, buscam analisar as representações de gênero e masculinidades nos shows de strip-tease do filme Magic Mike (2012), do diretor Steven Soderbergh, que mostra como os strippers masculinos, acionam e (re)produzemos diversos ideais masculinos encenando nos palcos através de músicas, gestos, fantasias e performances.
Em Entrevistas, Cristiane do Nascimento e Roberta da Costa conversam com Célia Maracajá: importante cineasta, atriz e produtora, atuante desde a década de 1970, é uma das percussoras da produção audiovisual indígena no Estado do Pará. Falam sobre projetos, povos indígenas, teatro e cinema.
Para esta edição, teremos duas Resenhas de filmes. Milton Ribeiro escreve sobre Que horas ela volta? (2015) de Anna Muylaert, com o título de De limites e disposições: ou sobre como podemos pensar o Brasil a partir do filme “Que horas ela volta?”. Rosaly Brito esmiúça o filme de Fernando Meirelles e Nando Olival de 2001, em sua resenha: Domésticas, o filme: trabalhadoras invisíveis ascendem ao centro da cena.
Inaugurando a seção Experiências Etnográficas, mais uma novidade que fará parte da Revista Visagem a partir desta edição, Dannyel Castro em Neopagãos na cidade: teias e trilhos de uma ecoespiritualidade na metrópole, apresenta dados etnográficos que evidenciam uma heterogeneidade de práticas neopagãs na cidade de Belém, chamando atenção para a existência de novas buscas espirituais responsáveis pela reconfiguração o campo religioso amazônico, destacando as relações existentes entre o Neopaganismo e o espaço público da cidade, bem como processos de sociabilidade contidos no interior desses grupos religiosos.
Nossa última seção, Ensaios, apresenta o autor Rafel Cabral que busca identificar por meio de fotografias e vídeos, pinturas corporais da etnia Mebengokre onde a partir da tradução artística transpõe aspectos éticos e estéticos em qualidades de movimento análogo as pinturas, como princípios para um treinamento autoral de artista do corpo. Em seu trabalho Kapran, Krori, Kukoj e Âkre: uma tradução em movimentos das pinturas indigenas Mebengokre no treinamento corporal de artistas do corpo no grupo Ameríndios Mex, ele se fundamenta na etnocenologia, antropologia estética, antropologia teatral e o SLA (Sistema Laban de Análise de Movimento) de Rudolf Laban, partindo do conceito de tradução de Patrice Pavis no estudo do Teatro e Cruzamento de Culturas integrado a análise de Lux Vidal sobre os grafismos indígenas, ele apresenta o conceito de corpografismo como caminho metodológico.
Esta é a nova edição da Revista Visagem feita com muito esmero, carinho e preocupação com a qualidade. Algumas pessoas ainda devem ser lembradas e agradecidas por sua parceria e dedicação, se a nossa revista está pronta é porque muitas pessoas dedicaram algumas, muitas, horas de seu tempo. Alex Assunção é o nosso webdesigner oficial: incansável, talentoso e sempre disposto. Márcio Alvarenga é o designer gráfico e nosso grande parceiro, fez nossa identidade visual e a belíssima capa desta edição. Um grande obrigado ainda aos ilustríssimos membros do Conselho Editorial, que estão sempre presentes e prontos para nos auxiliar, e que tanto abrilhantam nossa revista.
Por fim, desejamos a todos e todas um feliz e tranquilo 2016, cheio de realizações e muitas alegrias. Espero que, cada vez mais, possamos conviver com as diferenças baseados no respeito e no encontro. Gosto de ouvir Martin Buber: ‘O ser humano se torna EU pela relação com o TU, à medida que me torno EU, digo TU. Todo viver real é encontro’. Avante!
Alessandro Ricardo Campos - Equipe Editorial