Mirações em Tela: “Experiências, Percepções e Antropologia”



Maria Lucia da Silva Coelho [!]


Resumo

Este ensaio etnográfico e resultado do terceiro capítulo do meu TCC e esboça a minha experiência do uso da Ayahuasca no contexto ritual do Santo Daime junto ao grupo da igreja Luz de Maria em Marabá, sendo esta experiência ao mesmo tempo individual e coletiva. Neste sentido busco fazer uma reflexão sobre o processo de criação da mesma e um breve estudo sobre a performance da narrativa, através da pintura e da “memória partilhada”, reconhecendo e registrando modos de estar nesse universo, de ver, de sentir, de perceber e de conhecer. O Santo Daime será pensado a partir do que os Cientistas Sociais denominam como “novos movimentos religiosos”, traçando assim a história do surgimento da Igreja do Santo Daime Luz de Maria, que surge a partir de uma dissidência de um grupo anterior. Através do trabalho de campo (realizada no período de setembro de 2010 a janeiro de 2013) na referida igreja, é que entro em contato com o universo místico/religioso das mirações. As mirações são consideradas experiências de natureza espiritual ou mística já que são experiências vividas em outros planos, que só podem ser traduzidas para o plano material de forma descritiva, performática e simbólica. Dentre as diversas imagens presentes nas mirações, procurei destacar neste trabalho, alguns significados das imagens que aparecem em minhas telas, assim como alguns contrastes que eles podem passar dependendo da cultura local.

Palavra-chave: Santo Daime; Mirações; Antropologia; Religião e Modernidade.




Mirações on canvas: “"experiences, perceptions and anthropology”

Abstract

The present etnographic essay is a result of the third chapter of my under graduation final project e drafts my experience with Ayahuasca in the ritual context of Santo Daime. The research was done with the religious group of the church Luz de Maria in Marabá City and that experience was both individual and collective. On that way, I try to reflect about the process of construction of the church and I present a brief study about the performance of the narrative through the shared paint and memory, recognizing e registering ways of being in that universe, ways of looking, feeling, perceiving and knowing. Santo Daime is thought as from the social scientists name as “new religious movements”, outlining the history of the coming into being of the church Luz de Maria, that immerges as from a dissidence of another group. Though the fieldwork (took place from September 2010 to January 2013) in that church, I took in contact with the mystical/religious universe of the mirações. The mirações are considered spiritual or mystical experiences as they are experiences lived in another spheres that can be translated to material dimension only through descriptive, performative and symbolic form. Among the images that are part of the mirações, I tried to show on this paper, some meanings of the images that occurs on my canvas, as well as some contrasts that they could transmit depending on the local culture.

Keywords: Santo Daime, Mirações; Anthropology; Religion and Modernity




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Mirações em Tela: “Experiências, Percepções e Antropologia”



Maria Lucia da Silva Coelho [!]

Oh! Minha Mãe estou aqui

Recebendo a Vossa luz de amor

Que universo encantado

Dentro de mim se revelou

Este jardim tão cintilante

Reinado do meu beija flor

De pedras finas tão brilhantes

Que o Meu Pai me entregou

Todos os seres Divinos

Me acompanham para o Além

E vai subindo, vai subindo

Sobe até aqui quem me convém

A harmonia envolvente

Do som da harpa e do clarim

Meu Jesus Cristo vai na frente

Esta viagem não tem fim

Brilho no sol, brilho na lua

Eu brilho em todo jardim

A Minha Mãe está comigo

Meu Pai é quem zela por mim[1].

Introdução

Neste artigo apresento meus trabalhos em telas, as quais objetivam não apenas a representação do mundo externo e natural, e sim o vasto mundo interior que através do Santo Daime se revelou, bem como um resumo do conceito de arte visionaria e ainda a análise da construção social das imagens refletindo sobre os significados das memórias partilhadas através de entrevistas sobre mirações. evidenciando as mirações que geram, de forma aleatória, imagens e sons que acompanham os movimentos. Dessa forma, podemos compreender a plasticidade dos corpos, pois o daime amplia os sentidos, modificando o “estar” no mundo, por meio da interação homem e natureza, bem como um resumo do conceito de arte visionária e ainda a análise da construção social das imagens refletindo sobre os significados das memórias partilhadas através de entrevistas sobre mirações.

ARTE VISIONÁRIA

As artes constituem, sem dúvida, um dos instrumentos mais poderosos para o desvelamento de fenômenos tais como estados não ordinários de consciência. A conexão entre a criatividade e experiências com enteógenos – especialmente com a ayahuasca – intrigou-me. São vários artistas que conheci na Amazônia que me disseram ter recebido sua inspiração nas visões (LUNA 2004, 194)[2].

Arte visionária[3] pode ser entendida como um fazer artístico onde a produção é feita durante o efeito do chá, ou no momento da “força”, onde os artistas materializam o conteúdo de suas visões, através de diversas obras como pinturas, esculturas, nas variadas artes visuais, ou através da poesia e da música. A definição mais sucinta e de mais fácil entendimento é dizer que a Arte Visionária é o resultado de experiências de expansão de consciência retratadas plasticamente. Esse conceito de arte não é novidade, ele existe desde o tempo das cavernas, como por exemplo, as pinturas rupestres. Esse estilo de arte também esteve presente nas obras de vários artistas do Renascimento, como Paolo Ucello, Arcimboldo e Bosch, marcou também a arte de William Blake, além de ocorrer no Simbolismo, Surrealismo, Realismo Fantástico, Psicodelismo e, atualmente aparecem mais consistentemente nas obras dos artistas visionários[4], que se dedicam a retratar suas visões e experiências com a ayahuasca, tais como Pablo Amaringo, Alex Gray, Alexandre Segrégio, entre outros.

A arte visionária tem como propósito transcender o mundo físico, retratar visões que muitas vezes incluem temas espirituais e místicos ou pelo menos referentes a tais experiências. Outra característica da arte visionaria é a tentativa do artista em busca de uma representação original. Dentro deste contexto, também está envolvida a “arte enteógena”[5], ou seja, criações feitas sob o efeito de substâncias desse gênero. Esse termo foi adotado por ser muito usual entre os artistas e também por sua maior flexibilidade, envolvendo o uso de visões compreendidas em várias formas de expansão de consciência, com ou sem o uso de substancias enteógenas.

MIRAÇÕES EM TELAS

Em junho de 2012, por motivos pessoais e financeiros tomei a decisão de viver uma verdadeira aventura antropológica, inspirada pela antropóloga Florinda Donner-Grau, autora do livro “Shabono: uma viagem ao universo místico dos índios ianomâmis”. O livro de Florinda conta a história de uma antropóloga que se entrega como aprendiz aos guias indígenas que a levam por estranhos caminhos de uma sabedoria intuitiva e misteriosa. Para conhecer os segredos de cura destes habitantes das matas, adere aos costumes tribais e consegue desvendar, a partir do seu próprio ser, a magia ancestral dos espíritos da floresta. Inspirada por esse livro rico em magia e mistério, decidi passar um tempo morando no sítio da igreja, durante esse período de aproximadamente seis meses, fiz um verdadeiro mergulho em um mundo ainda desconhecido, mas muito real em meio as minhas mirações.

Essas mirações tornaram-se cada vez mais encantadoras e mágicas, com elementos desconhecidos, novas mirações que transcendem os modos comuns de percepção que me conduziram a criação de um verdadeiro “tesouro”, pois é assim que me refiro a minhas telas. Para descrever uma dessas experiências utilizo parte do meu diário de campo.

Marabá, 5 de agosto de 2012

Tomei o daime logo cedo, havia poucas pessoas no sítio e queria aproveitar o momento de sossego para fazer uma tela especial, até agora à força não chegou, sinto apenas uma leve sensação de bem estar. Depois de alguns minutos fechei os olhos para senti-la, durante a força comecei a observar o detalhe das coisas, os riscos das folhas, as diversas cores das flores e o aroma da natureza. Por um momento pude sentir o silêncio dos meus pensamentos, fiquei atenta a qualquer movimento, atenta a tudo, comecei a perceber que tudo aquilo que desejamos leva ao sofrimento. Nunca estamos vivendo o agora sempre estamos pensando no que seremos ou no que teremos no futuro. Isso quase sempre nos deixa deprimidos e sempre vivendo “o que ainda será”, deixamos de viver o mais importante que é o agora. A força me levou para uma viagem ao além da minha consciência, parti em busca da desconstrução deste mundo ilusório. Comecei a criar novas saídas para atravessar as dificuldades que estava passando naquele momento e o daime me ensinava como mudar a energia do meu corpo e do meu espírito. Estava observando tudo com outros olhos e estes comtemplavam o belo com todas as suas cores, com todo o seu brilho colossal, sentia o doce cheiro sedutor das flores, ouvia com muita atenção o cantar dos pássaros com milhares de acordes e sentidos, seus voos de liberdade, suas asas que ao baterem me traziam os ventos, contemplei à noite com suas estrelas incandescentes, e o brilho protetor da lua. Neste momento pingos d’água começaram a cair sobre o meu corpo, águas que levam o mal para o além, chuva que vem nos banhar e nos trazer vida, o florescer da natureza. Tudo era tão magico, uma vida que traz outras possibilidades, criações divinas feitas para serem comtempladas e amadas. Durante a força junto com toda essa compreensão eu ia traçando a minha nova obra, as cores me conduziam a um mundo profundo existente dentro de mim, elas tornavam-se amplamente dispersas, fascinada observei a transparência do ar a dissolver as sombras a minha volta. Uma suavidade envolvia o pincel que se expandia revelando os vários contornos sobre a tela, sentia a minha volta uma brisa suave que tinha cores desconhecidas de um brilho envolvente. Pintei até o momento em que a força passou...

Cada tela é um mundo, um aprendizado, uma cura, um novo caminho, quando estou pintando sinto uma onda de sentimentos que invadem e me levam para dentro do próprio daime ,os desenhos formam uma vibração que modela, conserta, cura e cria, a força aumenta e percebo meu corpo estremecer. O canto dos pássaros me dá o tom, as flores me dão o seu brilho, as árvores e o céu a sua suavidade, deixo os detalhes brotarem. Cada tela é uma história, cada figura tem o seu significado e sentido, que variam de acordo com o ponto de vista de cada pessoa, assim como afirma o autor José Bizerril, no texto “O território da confluência: Poética e Antropologia”:

...tais convenções variam de acordo com cada tradição e mesmo no interior de cada gênero particular. Pode estar ligado a determinados tipos de contextos, instituições e sujeitos sociais (Bizerril ano, 107).

Ao olhar para a tela cada pessoa faz a sua própria viagem de acordo com seus conceitos e cultura. Cada tela possui o seu ensinamento, a força das imagens, muitas vezes sensibiliza o espectador de forma inconsciente. Os olhos são fisgados pelo colorido e o encantamento decorrente desse encontro devolve a graça ao dia, reconstrói em segundos a ponte com a fantasia e o mágico que os transporta para outro lugar. Em meio a essas viagens conheço seres de luz que vem até mim, para mostrar os seus conhecimentos, que serão repassadas através das pinturas. São seres cheios de magia e conhecimentos, belas sereias, princesas, rainhas e reis.

Cada tela é um reflexo de mim, do que estou sentindo, são frutos da emoção que emprego nelas, esses sentimentos permanece estampado em cada detalhe e em cada cor. As pinturas retratam, em sua maioria, paisagens iluminadas pelo sol ou pela lua, quase sempre com presença de flores. Em muitos quadros, se vê água, principalmente de rios e cachoeiras, mas também o mar.

Uma das dificuldades em pintar minhas visões é justamente encontrar em um modo material, as tintas nas cores que costumo ver na força, pois as cores que encontro são menos vivas e brilhantes, e não exprimem a ideia da experiência original.

3 CADA TELA UM “NOVO OLHAR”

Tela 1 da série

Figura 15: Tela 1 da série "Encantos do mar". Em março de 2013. Fonte: Arquivo pessoal.

A primeira tela foi uma grande surpresa, a minha preferida, passei por tantas provas durante a sua confecção, tantos obstáculos que por um momento pensei em não pintar mais, porém o amor pela arte superou tudo. A arte vem de dentro, o amor é quem a constrói. Essa tela foi especial porque além de ser a primeira, ainda existiu o perdão, a compreensão e o amor profundo. Ela me fez entender que cada pessoa tem seu valor, que nossos erros são reflexos de nossas vitórias e que através deles podemos construir algo muito melhor (FIGURA 15).

Essa tela me ajudou a exercer a caridade e o amor pelo próximo, me fez entender que a raiva, o rancor e o orgulho não valem de nada, são apenas reflexos de nossas derrotas e obstáculos para a nossa evolução. O Daime é a chave de tudo, os desenhos são sonhos de um mundo melhor, são refúgios para os que acreditam no amor, no canto dos pássaros, no brilho da lua e na magia das matas.

Essa tela possui varias figuras e formas, e cada uma delas tem algo a nos ensinar, estão nos repassando sentimentos e inspirações. A começar pela primeira tela sempre existiu a figura de uma grande serpente que dentro da doutrina representa conhecimento e é quem abre nossas mirações, conhecida como a protetora da mãe terra. Sempre começo a tela pela serpente ou por algo que vai se ligar a ela. Para Chevalier e Gheerbrant (1982):

As serpentes são animais que parecem inspirar simultaneamente medo e fascinação devido a sua beleza, seus mistérios, seu perigo. Alguns desenhos, desde o período paleolítico, são linhas sinuosas relacionadas ao movimento das serpentes, do mesmo modo que os pigmeus ainda as representam, com uma linha no chão (CHEVALIER & GHEERBRANT 1982, 814).[6]

A figura da serpente possui diversos significados e uma infinidade de aspectos simbólicos, tanto pelas suas características físicas, como pela variedade de habitats. Ela é considerada como o símbolo da fertilidade, da sexualidade ambivalente, representa ainda as fontes da vida e da imaginação. Também é chamada de Kundalini[7], que significa o poder do desejo puro dentro de nós, é a energia de nossa alma, de nossa consciência, é a nossa emanação do infinito, a energia do cosmos dentro de cada um de nós. Como nossa energia criativa, ela pode ser imaginada como uma serpente enroscada adormecida na base da nossa coluna vertebral representa a energia da libido que sobe pelos chakras[8], abrindo-os, iluminando-os, ajudando a renovar as personalidades, além disso, pode ser a serpente do paraíso que tentou Eva, que trouxe a queda simbólica da humanidade.

Para os Xamãs Ancestrais[9] a serpente é um animal de poder uma grande aliada de cura, ela é poderosa e indispensável. Ela tem a capacidade de devorar doenças, comendo tumores e outros patógenos virulentos, pois o organismo da Serpente não é vulnerável às mesmas doenças que os nossos. Na medicina a serpente representa o símbolo do bem e do mal, portanto da saúde e da doença; é o símbolo da astúcia e da sagacidade; símbolo do poder de rejuvenescimento, pela troca periódica da pele; além de ser considerado o ctônico, elo entre o mundo visível e invisível[10].

Nessa tela podemos observar a figura de uma bela índia com seu penache colorido, ela simboliza os seres da mata (FIGURA 15). Que nos trás a sua proteção, suas penas coloridas representam a alegria dos pássaros, que nos transmitem conforto. Notamos a presença de borboletas que nos envolvem com o brilho das matas, nos transportando para um novo tempo de transformação. Os pássaros presentes na tela tem o poder de nos transmitir através do seu colorido uma energia pura, que nos leva a um mergulho pelos mundos encantados e profundos.

A lua prateada presente em quase todas as telas dessa série “encantos do mar”, simboliza Nossa Senhora da Conceição, nossa mãe protetora. As flores simbolizam a beleza e o encanto das cores. O índio que aparece no canto esquerdo nos remete aos estados iniciais dos efeitos do daime, onde padrões coloridos de diversas formas costumam ser vistos, espirais que se movimentam e nos levam a viver aquele momento, desprendendo nossa mente de tantos pensamentos, nos conduzindo para outros mundos. As espirais são efeitos de energia e movimento, presentes em várias culturas e religiões e exprimem a conexão com o universo espiritual, assim como podem representar os labirintos e as teias de aranha, com a ideia de centro e periferia. Vale lembrar que elas também estão presentes nas pinturas pré-históricas e são usadas desde a antiguidade como símbolos ornamentais[11].

Tela 2 da série

Figura 16: Tela 2 da série "Encantos do mar". Título: Iluminação, em março de 2013. Fonte: Arquivo pessoal.

Na pintura “Iluminação”, retrato a historia de uma jovem sem rosto, perdida em meio a pensamentos sem rumo e vazios, que a levam ao nada a solidão do mundo. Os seres presentes nessa tela tem seu sentido voltado para os espíritos da floresta, todos eles vêm para abençoar a jovem sem rosto e ajuda-la a sair do mundo de ilusões (FIGURA 16).

A pintura nos modifica, nos leva a construir novos mundos, nos transporta para uma viagem em meio às cores, nos conecta com o universo cósmico, nos traz força e alegria. No momento em que estava pintando sentia que uma luz muito forte me iluminando, que me levava para um mundo encantado que estava em constante transformação, onde tudo se ligava as serpentes, reis, curandeiros e espíritos da floresta que me ofereciam o poderoso balsama protetor feito pelo daime.

Essa tela possui uma ligação muito forte com o momento que eu estava passando. Ela remete a transformação, uma busca pelo autoconhecimento, momento de tomar uma decisão, uma saída do mundo de ilusão, desapego das pessoas e dos bens materiais, foi o momento em que decidi passar um tempo no sitio. Durante o processo de criação da tela passei por uma fase de reconhecimento de encontro comigo, com meu ser interior. Ela representa o amor próprio, me ensinou através das pinceladas que quem tem que me amar acima de tudo é eu mesma. Que todo amor que necessito está dentro de mim, que ele deve ser repassado para as pessoas a minha volta através da pintura. Pintar essa tela me ajudou a compreender que sou importante para o mundo, que essa arte vai ajudar muita gente a se reconhecer também.

Essa pintura tem muita magia e encantamento vindo dos seres da floresta, ela foi construída pelo amor as matas e aos seres que nela habitam. A serpente nesta tela representa os ensinamentos de uma velha curandeira, que vem trazer todo conhecimento a menina sem rosto, que ainda não se reconheceu, ainda não sabe do seu valor perante as pessoas. As serpentes, em muitas mirações descritas durante as entrevistas pelos daimistas, servem como meio de transporte para os reinos celestes ou subaquáticos.

As borboletas que a levam pela mão para mostrar-lhe a transformação do mundo, o novo tempo que se aproxima. A borboleta assim como a serpente também possui varias simbologias, ela nos ensina a perceber todas as etapas necessárias a uma verdadeira transformação, interna ou externa. Ela passa por vários estágios, de ovo para larva, desta para casulo. E finalmente nasce. Com isso, ela nos ensina que os estágios são importantes, indispensáveis, para que não se pule de fase sem a devida atenção ao que está sendo feito. Devemos ter sempre clara a ideia de eterno ciclo de autotransformação. Pode representar ainda Clareza mental, novas etapas e liberdade.

A sereia[12] que aparece no canto inferior do lado esquerdo da tela representa à senhora das águas, que vem entregar para a jovem a folha da Rainha[13]. Através do canto suave da sereia a jovem será conduzida ao que procura há muito tempo, buscava a sensibilidade, o equilíbrio e a liberdade da alma.

No canto superior direito podemos contemplar a imagem de um rosto verde representante dos poderes das águas, de sua boca notamos a queda de uma cachoeira, que cai sobre a sereia com o poder de purificar as energias negativas, já no canto superior direito está à figura de outro rosto que representa o senhor dos ventos, que com um só sopro afasta todos os maus pensamentos. Entre os dois seres, por traz da lua tem um pássaro de fogo que representa nessa tela os raios do rei sol, quem ilumina a terra e nos salda todos os dias, a lua é a mãe que com o seu brilho nos leva ao bom caminho.

Tela 3 da série

Figura 17: Tela 3 da série "Encantos do mar". Em março de 2013 Título: Brincadeira de Sereia. Fonte: arquivo pessoal.

Para criar essa tela recebi as inspirações das profundezas do mar, com o objetivo de trazer a purificação e a suavidade, ela veio nos mostrar os encantos das sereias e das belas cachoeiras para lavar todo o mal. Essa tela é uma das mais simples, porém cheia de magia para aqueles que enxergam a beleza. A correnteza do mar traz para a tela os seres místicos e mágicos adormecidos em nosso interior, nos leva a nossa infância, nos faz lembrar como é bom brincar e ser feliz, rir sem culpa, ter a doçura de uma flor e ver a beleza de um pássaro. Durante o processo de criação percebi que as crianças amam sem pedir nada em troca, fazem confusão por tudo e se perdoam no mesmo instante, ao mesmo tempo percebi que a vida passa tão depressa que muitas vezes deixamos que ela passe por entre os dedos, deixamos de sonhar, não damos atenção para o presente, sempre pensando no futuro ou no passado, deixamos de viver momentos importantes estando neles sem estar, permitimos que o tempo passe e depois nos cobramos por não termos aproveitado enquanto tínhamos a oportunidade de fazer o melhor momento de nossa vida. Não subimos nas árvores, não corremos, não gritamos, não fazemos o que é maior, coisas mais importantes que nada, essa tela representa o chega de acordar e repetir (FIGURA 17).

A tela “Brincadeira de sereia” retrata as brincadeiras e a magia das sereias, a pintura mostra a magnífica cidade brilhante de Encantos do Mar. Esta cidade é o local de encontro das mais belas criaturas aquáticas, onde elas se reúnem para brincar e receber a sabedoria das mais antigas. As belas cachoeiras servem de senário para toda essa viagem, onde na primeira descansa a serei mais antiga Ynaré, que observa o lindo arco-íris e os botos. Ela é aliada dos grandes mestres, ajuda a resgatar pessoas que se perderam nas águas profundas, ela está segurando uma flor feita de poesia. Brincando próximo às pedras estão às sereias Janaína e Jurema, filhas de Ynaré, elas trazem consigo flores medicinais e irão aprender sobre cura, Essas sereias vivem nas rochas e simplesmente desaparecem nelas se alguém tenta capturá-las. Mais atrás, do lado direito, estão algumas borboletas vindas de uma terra distante, vivem no bosque do arco-íris e são aliadas das belas fadas, elas auxiliam no controle das energias dos ventos e das tempestades. Atrás das sereias, estão cachoeiras de grande esplendor e beleza.

O círculo colorido ao fundo, simboliza proteção é o símbolo da perfeição, da ausência de divisão, da totalidade e da eternidade, podendo também simbolizar os ciclos celestes. Nessa tela o círculo pode representar os caminhos que a alma percorre até chegar a essa miração. Campbell diz que:

O círculo, por outro lado, representa a totalidade. Tudo dentro do círculo é uma coisa só, circundada e limitada. Esse seria o aspecto espacial. Mas o aspecto temporal do círculo é que você parte, vai a algum lugar e sempre retorna. Deus é o alfa e o ômega, o princípio e o fim. O círculo sugere imediatamente uma totalidade completa, quer no tempo, quer no espaço (CAMPBELL 191, 234)[14].

No canto superior esquerdo do quadro está o lindo passarinho verde responsável pelo poder do arco-íris. Ele representa o passarinho verde do qual se refere o hino 69 do Mestre Irineu. A seguir o hino “Passarinho” do Mestre Irineu.

Passarinho está cantando

Discorrendo o ABC

E eu discorro a tua vida

Para todo mundo ver

Passarinho está cantando

Canta na mata deserta

Dizendo para o caçador

Você atira e não acerta

Passarinho Verde canta

Bem pertinho para tu ver

Sou Passarinho e tenho dono

E o meu dono tem poder

Passarinho Verde canta

Com alegria e com amor

Sou Passarinho e canto certo

E com certeza aqui estou[15]

Neste hino apresentam-se vestígios de lendas amazônicas que foram ressignificadas pela Doutrina do Santo Daime. A seguir trecho do livro “O jardim de belas flores” de Juarez Duarte Bomfim, que apresenta o significado do passarinho.

Deus é tudo e todos, Todos os Seres, e olha por toda sua criação. Aqui é apresentada uma de suas criaturas, um singelo passarinho, cantando solitariamente na floresta, e a sua pungente melodia cala tão fundo no coração que é como se examinasse as nossas vidas. É comum a crença, em diversas regiões rurais brasileiras, na existência de seres encantados defensores da floresta, que vivem na mata zelando pelas árvores e animais. Esses encantados voltam-se “contra qualquer um que queira caçar apenas por prazer, ou desmatar a floresta sem propósito” [16]. Por outro lado, são amigos dos que vivem na mata sem agredi-la, caçando apenas para alimentar-se e respeitando a flora[17]. Para atrapalhar os que não agem com boas intenções ecológicas, esses encantados têm muitas artimanhas[18].

Tela 4 da série

Figura 18: Tela 4 da série "Encantos do mar", março de 2013. Título: Canta Praia. Fonte: Arquivo pessoal.

A pintura foi feita entre os dias doze e quinze de agosto de 2012, ela assim como as outras que busco descrever neste capitulo, fazem parte da serie “Encantos do mar” e seu titulo é “canta praia”, o mesmo foi sugerido pela daimista Camila, pois durante o trabalho do dia 15 de agosto, ela viu em sua miração que o nome da tela deveria ser “canta praia”. A miração aconteceu na hora em que estávamos cantando o hino 24 do Mestre Irineu, o qual possui o titulo “Canta Praia” (FIGURA 18).

Canta praia, Canta praia

Canta praia é quem me ensina

Eu sou um filho eterno

Não devo pensar à toa

Conhecer este poder

Que me traz as coisas boas

Não devo te desprezar

Para ir atrás da ilusão

Que me traz tanta riqueza

E me derriba pelo chão

Devo ser eternamente

Para sempre, amém Jesus

Eu sou um filho eterno

De joelhos em uma cruz[19]

Para descrever com mais clareza como foi essa miração faço uso de um trecho da entrevista feita com Camila Moreira que consagra o Santo Daime há cinco anos.

Com o passar do tempo, novas pessoas foram chegando ao sitio e com chegada da Malu aqui eu vi nela uma grande amiga mesmo, assim que a gente se conheceu eu nunca esqueci que ela me pediu para eu ser madrinha dela e pra mim foi muito bacana. Desde quando ela começou a fazer os primeiros desenhos eu sempre gostei, sempre fiquei muito admirada com os desenhos e quando ela começou pintar as telas nossa eu falei pra ela que queria ter dinheiro pra comprar todas as telas dela, pois as telas são lindas. Teve um dia especial que ela tinha terminado de pintar uma tela e era dia de trabalho e ela me levou no quartinho dela aqui onde ela guarda as telas que já pintou e me mostrou uma tela muito bacana, que tinha uma entidade uma índia ou uma cabocla e ela estava bem próxima à água, era mesmo assim um convite para aquela água. A gente subiu para o trabalho as nossas posições dentro do salão, agente fica uma do lado da outra, quando agente cantou o hino que chama “canta praia”. “Canta praia” também significa cantar pra ir, pra alcançar, pra subir e no momento que a gente começou a cantar aquele hino eu entrei totalmente para a história daquela tela que ela havia me mostrado, eu vi aquela cabocla e entendi que toda aquela situação que estava sendo cantada no hino ela tinha conseguido inconscientemente expressar na tela e depois eu contei a ela que acabou dando o nome de “Canta praia” para a pintura. Eu vi também que naquela tela tinha uma mulher com um vestido longo feito de água eu conseguia ver no meio do vestido dela os peixinhos nadando e se harmonizando com toda aquela situação da tela do hino, tudo em perfeita harmonia, como se ela tivesse cantando pra Malu pintar, ela mesma aquela entidade que devia ser Iemanjá.

A pintura é um momento de performance, como já foi comentado no capítulo anterior, é quando estabelece-se um quadro interpretativo a partir do qual se compreende as mensagens, deste modo implica a capacidade da plateia e do narrador, no sentido de ir mais além de um micro sentido referencial. Nesse sentido posso dizer que durante a experiência descrita acima proporcionei simultaneamente uma ampliação da experiência.

A tela “Canta Praia” remete ao encontro de vários seres encantados, que vem trazer varias oferendas para quem a observa. Cada uma das mulheres presentes na tela representa um elemento da natureza, repletas de boas vibrações e muita harmonia. A mulher do canto esquerdo superior simboliza os ventos da alegria que transmitem vida e um novo florescer, as flores são o nascimento de um tempo prospero e cheio de amor.

A sereia representa nessa tela a magia das águas, ela é a rainha protetora das profundezas do mar, seu olhar envolvente encanta e transmite à beleza, a flor que ela segura traz a proteção e o respeito ao próximo. Os peixinhos simbolizam as crianças, a grande índia vem oferecer bons sentimentos, ela traz segurança e a força de uma guerreira das matas. Em fim a mulher que está com a lua na mão, representa à senhora das águas a rainha da lua, a mãe protetora do universo, ela traz o conforto e o amor de mãe.

Tela 5 da série

Figura 19: Tela 5 da série "Encantos do mar". Título: Ia guiado pela lua, março de 2013. Fonte: Arquivo pessoal.

Essa tela representa o despertar da consciência cósmica, através da mediunidade[20] é a tela que possui maior significado espiritual, seu título é “Ia guiado pela lua” o mesmo do hino 84 do Mestre Irineu (já citado no capitulo anterior) ambos remetem ao chamado da virgem mãe, Nossa Senhora para uma viagem até um ponto destinado e quem ira conduzir por este caminho será Deus e Ela (FIGURA 19).

Essa viagem leva ao caminho do conhecimento interior, do despertar do autocontrole e do equilíbrio. A serpente que sai do alto da cabeça da fada representa a serpente Kundalini guardiã dos sete chakras principais, as flores cor de rosa que aparecem em três pontos da tela representam os pontos que precisam ser trabalhados pela fada, são os centros de energia em desequilíbrio e sinaliza o que é preciso melhorar. Os pontos a serem analisados são: o terceiro chakra chamado de Plexo Solar representa a força do indivíduo, onde "mora" o ego de cada um, suas funções primordiais são o poder e a vontade e está relacionado com as emoções. Quando muito energizado, indica que a pessoa é voltada para as emoções e prazeres imediatos. Quando fraco sugere carência energética, baixo magnetismo, susceptibilidade emocional e a possibilidade de doenças crônicas, esse chakra é representado pela cor amarela e localiza-se na região do umbigo.

Outro ponto a ser trabalhado é o sexto chamado de Chakra Frontal, conhecido como “terceiro olho” na tradição hinduísta, situa-se no ponto entre as sobrancelhas, representa a mente e está ligado à capacidade intuitiva e à percepção subtil. Quando bem desenvolvido, pode indicar um sensitivo de alto grau, é representado pela cor azul índigo. O ultimo chakra analisado é o sétimo chamado de Coronário, é o mais importante de todos, pois representa nossa ligação com a energia superior, com o universo, abre a consciência para o infinito, relaciona-se com o padrão energético global da pessoa, através dele recebemos a luz divina.

A sua função principal é evoluir, ascender e se aprimorar como ser humano, situa-se no topo da cabeça, na tela “ia guiado pela lua” está representado pela serpente. Também conhecido como chakra da coroa, é representado na tradição indiana por uma flor-de-lótus de mil pétalas na cor violeta. A tradição de coroar os reis fundamenta-se no princípio da estimulação deste chakra, de modo a dinamizar a capacidade espiritual e a consciência superior do ser humano. Percepção além do tempo e do espaço.

Na tela “ia guiado pela lua” a fada está vestida com uma roupa cor de rosa que representa a amor incondicional, a cor da suavidade, do feminino. A água que a fada oferece para a serpente traz uma simbologia muito forte, remete ao ato de alimentar a mediunidade. A espiral que aparece ao fundo da tela remete a ideia de passagem para um espaço além, diferenciado do mundo material. A espiral é o movimento circular que sai do centro e se alarga ao infinito. Ela se assemelha a um círculo ou a um sistema de círculos concêntricos. Na sua associação com movimento, as espirais estão conectadas à ideia de danças circulares, em labirinto e nas danças que evoluem na forma da espiral.

Na parte inferior do lado esquerdo da tela tem uma embarcação antiga feita de ouro e prata, ela é quem conduzirá a fada pelo caminho do equilíbrio e da iluminação, para que ela compreenda e aprenda a lição.

Este ensaio teve como objetivo fazer um exercício etnográfico da minha experiência ao participar do ritual do Santo Daime, como um requisito de trabalho de campo exploratório referente à disciplina “Tópicos Temáticos em Antropologia” sobre Nova Consciência Religiosa. A ideia foi mostrar a complexidade de se etnografar o “invisível”, o não palpável, o silêncio, já que o que geralmente se concebe como um elemento possível e importante para ser pesquisado, é algo literalmente concreto e visível nas relações humanas.

As minhas mirações traduzidas em telas foram o fio condutor, mas especificamente o método, para etnografar esta experiência que se tornou central no trabalho de campo, enfatizando cada vez mais que ela é ao mesmo tempo individual/subjetiva e coletiva. Dessa forma, considerei aqui as telas que eu mesma criei, um dos elementos importantes da linguagem e da cosmologia daimista, para a compreensão deste saber local (Geertz,1997), reforçando a concepção de cultura como um texto que deve ser lido e interpretado. Neste sentido, foi que considerei as mirações traduzidas em telas como um texto que fiz um primeiro exercício de interpretação, assumindo todos os “riscos” e “impurezas” que este território de confluência, entre Antropologia e Arte, imagens, percepções me possibilitaram, questões estas que serão aprofundadas, quem sabe, em um “futuro próximo”...

A suposta objetividade é uma miragem, tanto na antropologia, quanto na Arte não é possível analisar sem expectativas. O exercício da performance no contexto antropológico é ter expectativas de aproximação com o outro, com o que não conhecemos, nos desafia o contato, a interação. Outros modos de se fazer antropologia, outros modos de se fazerarte. Olhares atentos a lugares onde o corpo está restrito à lei e à ordem permitem-nos expandir o olhar...

Aqui findei

Faço a minha narração

Para sempre se lembrarem

Do velho Juramidam[21]

Referências

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[1] Hino nº 37 “Universo Encantado” do hinário “A Chave”, recebido por Júlio César.

[2] Apud Mikosz (2009, p. 107).

[3] Para um histórico sobre a arte visionária e ayahuasca, bem como os primeiros autores a reportar isso em seus estudos, ver Mikosz (2009).

[4] Chamados aqui de visionários por causa da característica de pintarem suas visões.

[5] Enteógeno foi um termo proposto por Wasson et. Al. (1969), eleito para livrar-se de rótulos tais como droga ou alucinógenos, desgastados e carregados de preconceitos. Além de conflituosos em relação as visões nativas. Segundo MacRae (1992, p.16), enteogeno deriva do grego antigo entheos que significa “Deus dentro”; o neologismo enteógeno significaria então “o que leva o divino para dentro de si”.

[6] Apud Mikosz (2009, p. 123).

[7] O texto desse parágrafo foi parafraseado das informações presentes no sítio: <http://www.salves.com.br/kunkun.htm> (acessado 12 de janeiro de 2013).

[8] Chakra, em sânscrito, significa “roda de luz”. Na filosofia hindu, são os pontos de junção por onde passa a energia vital, geralmente sete, distribuídos da base do períneo até o topo da cabeça. São como centros de consciência (CHEVALIER & GHEERBRANT 1982, 231). Em sentido mais amplo, “Chakra significa círculo, esfera” (CAMPBELL 1991, 191). Os Chakras são centros de energia, que representam os diferentes aspectos da natureza sutil do ser humano. São eles: corpo físico, emocional, mental e energético. Os sete principais Chakras ficam localizados ao longo da coluna vertebral do corpo humano e, segundo a Tradição Hindu, seguem as cores do arco-íris.

[9] O texto desse parágrafo foi parafraseado das informações presentes no sítio:

< http://usuarios.cultura.com.br/jmrezende/Simbolo.htm>

[10] O texto desse parágrafo foi parafraseado das informações presentes no sítio:

<http://usuarios.cultura.com.br/jmrezende/Simbolo.htm>

[11] Para um histórico sobre espirais ver ainda Mikosz (2009, p. 143).

[12] Sereia vem do grego antigo: Σειρῆνας é um ser mitológico, parte mulher e parte peixe. É provável que o mito tenha tido origem em relatos da existência de animais com características próximas daquela que, mais tarde foram classificados como sirénios. Filhas do rio Achelous e da musa Terpsícore, tal como as harpias, habitavam os rochedos entre a ilha de Capri e a costa da Itália. Eram tão lindas e cantavam com tanta doçura que atraíam os tripulantes dos navios que passavam por ali para os navios colidirem com os rochedos e afundarem. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sereia

[13] Psychotria viridis, componente feminino do chá, chamada também de chacrona.

[14] Apud Mikosz (2009, p. 201)

[15] Hino nº 69 “Passarinho”, do hinário “O Cruzeiro Universal”, recebido pelo Mestre Irineu.

[16] Aliverti (2005, p. 54).

[17] O texto desse parágrafo foi parafraseado das informações presentes no sítio:

Ibidem. Portal do Santo Daime <www.santodaime.hbe.com.br>

[18] Apud Bomfim (2009, p. 123)

[19] Hino nº 24 “Canta Praia”, do hinário “O Cruzeiro”, recebido por Mestre Irineu.

[20]Mediunidade é a faculdade dos médiuns, ou seja, a faculdade que possibilita uma pessoa servir de intermediária entre os Espíritos desencarnados e os homens. A palavra médium é uma expressão latina que significa "meio" ou "intermediário". Allan Kardec apropriou-se dessa expressão para desig­nar as pessoas que são portadoras da faculdade mediúnica. Para um histó