Morar na ‘Casa do Povo’


Filme sobre a Ocupação da Câmara de Vereadores de Porto Alegre protagonizada pelo Bloco de Lutas pelo Transporte Público de Porto Alegre entre os dias 10 e 18 de julho de 2013. O filme entra na Câmara de Vereadores para observar como foi Ocupada e quais eram as principais pautas defendidas: Passe Livre rumo à Tarifa Zero, Abertura das contas das empresas de ônibus e quebra do sigilo bancário dos empresários. Vemos como a partir do trabalho de base, focado na discussão das pautas e das estratégias nas assembleias, um movimento social muito heterogéneo conseguiu organizar a sua unidade de ação e colocar as pautas do transporte público nas agendas políticas em Porto Alegre. A Ocupação se apresenta como uma ação direta produtiva na hora de tecer redes pessoais e politicas, mas o trabalho politico ao redor dos projetos de lei do Bloco acabou quando a Câmara foi desocupada. Os vereadores governistas primeiro aceitaram veicular os projetos de lei do Bloco, para conseguir a desocupação da Câmara, e depois se limitaram a tentar criminalizar os ocupantes na CPI "da invasão". A Câmara foi desocupada a partir de uma forma conciliativa de resolver o conflito no que poderíamos considerar como um exercício de "harmonia coerciva" (Nader, 1994). A forma do filme procura estar adaptada ao seu campo de pesquisa, sendo construído a partir de imagens de procedências diversas e cine-debates, numa forma de antropologia publica (Fassin, 2013) e compartilhada (Rouch e Morin, 1962) ou colaborativa, que ajudou a criar o conceito de "camadas de autoria" (Segarra, 2015).

"Os processos de disputa não podem ser explicados como um reflexo de algum conjunto pré-determinado de condições sociais. Eles refletem, mais exatamente, os processos de construção cultural que podem ser uma resposta à necessidade, um produto dos interesses preponderantes ou um resultado do conflito de classes. A harmonia como concepção geral de vida deveria ser investigada minuciosamente no que se refere à construção das leis, tal como o conflito foi investigado minuciosamente no que se refere ao desenvolvimento da lei. Os dois deveriam ser examinados com respeito às noções de um mundo novo, para que possamos diferenciar um mundo de justiça de um mundo de estabilidade" (Nader, 1994).

Na minha dissertação de mestrado (SEGARRA, 2015) refleti teoricamente sobre o processo de realização do filme “Morar na ‘Casa do Povo’”3 que fez parte da pesquisa. Nessa experiência procurei não transpor um processo de criação coletiva em uma forma de assinar focada num único individuo. Habitualmente escutamos as pessoas se referirem aos filmes como “o último filme de Almodóvar”, por exemplo. A individualização de obras eminentemente coletivas tem, ao meu ver, relação com o individualismo, a meritocracia e a competitividade, características de nossa sociedade. Considero que, geralmente, a pesquisa etnográfica tem um teor colaborativo, e manter nela conceitos importados do campo do cinema, como o de diretor, pode não dar conta da complexidade do processo e enfraquecer a dimensão coletiva do trabalho etnográfico. Neste sentido, propus o conceito de camadas de autoria (op. cit). Este conceito permite, ao mesmo tempo, assumir que o trabalho é coletivo e levar em consideração a diversidade de papéis das diferentes pessoas que participam no processo. Trata-se de priorizar a dimensão coletiva do trabalho sem cair na ingenuidade da horizontalidade total.

ARTIGO RELACIONADO: antropologiacritica.wordpress.com/2016/07/15/tres-anos-depois-de-morar-na-casa-do-povo/

Pesquisador (Mestrado/PPGAS/UFRGS): Josep Juan

Orientadora (PPGAS/UFRGS): Patrice Schuch

Imagens: Antropo TV (Josep), Coletivo Catarse (Tiago e
Jefferson), Jornalismo B (Bruna e Alexandre), Midiatize (Fabrizio),
Titas e Lucas, Douglas Freitas

Montagens: Josep Juan

Assessoria de montagem: Thais Fernandes, Eleonora Loner.

Apoio: CNPQ, Bloco de Lutas, Mateus Ballardin, Stéphanie
Bexiga, Iuri Civitas, NACi (UFRGS), NAVISUAL (UFRGS), Sindibancários POA,
FAG.

Duração: 30’

Versão: 5a versão do filme

Ano: 2016



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