Fronteiras Borradas: materialidades e imagens de artefatos e práticas votivas no Círio de Nazaré

Anselmo do Amaral Paes [!]


Resumo

O artigo traz reflexão sobre os artefatos votivos e sua experiência junto ao evento do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém do Pará. Sua compreensão envolve sua produção contínua no evento e performance do Círio, assim, os limites restritos entre artefato e ação, paisagem e indivíduo, objeto e pessoa, se tornam indefinidas, suas fronteiras borradas. O trabalho de campo inclui registro e produção de imagens fotográficas, que compõem o esforço em refletir sobre os ex-votos a partir dos paradigmas teóricos propostos, desta forma, considerando as materialidades do sagrado, adotando a perspectiva de seguir os artefatos votivos (promessas – ex-votos) durante cortejo processional do Círio.

Palavra-chave: Círio de Nossa Senhora de Nazaré, ex-votos, promessa, artefato, paisagem.



Abstract

The article brings reflection on the votive artifacts and their experience along to the Círio of our Lady of Nazareth, in Belém do Pará. Understanding involves continuous event production and performance of Cirio as well, restricted boundaries between artifact and action, landscape and individual, object and person, become undefined, its boundaries blurred. Fieldwork includes recording and production of photographic images, which make up the effort in reflecting on the ex-votos from the proposed theoretical paradigms, in this way, considering the material elements characteristic of the sacred, adopting the prospect of following the votive artifacts (promises-ex-votos) during processional parade of Cirio. Keywords: Cirio, ex-votos, promise, artifact, landscape.





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Fronteiras Borradas: materialidades e imagens de artefatos e práticas votivas no Círio de Nazaré



Anselmo do Amaral Paes [!]

1. APRESENTAÇÃO

Chamados popularmente de “promessas”, os ex-votos materializam em artefatos a ação expressiva de dar e receber, sua retribuição, o princípio-motor da dádiva, as relações pessoais e afetuosas que marcam as afinidades entre o sagrado e o profano, entre devoto e devocionado, entre os santos e seus apadrinhados, filhos e filhas. Relevante, portanto, definir a ação de construção destes artefatos como parte e etapa de um processo, o pagamento de promessas, que envolve a circulação de votos que se realiza no espaço urbano de Belém, em especial durante as procissões e festas devotas do Círio, no qual se destaca como “principal” a procissão do segundo domingo de outubro (PAES, 2013).

Neste período ritual marcado por entradas e saídas, transformações, desordem, ordem e seus interstícios, a grande multidão de devotos de Nossa Senhora de Nazaré, reúne-se diante da Catedral da Sé (no centro histórico da cidade) para o início da caminhada que levará a imagem da santa e seus fiéis até a Basílica de Nazaré, agora Santuário, no bairro de mesmo nome.

Morador que sou de Belém desde a infância, criado em família católica, o Círio não me surpreendia. Ao ser incluído como antropólogo no Sistema Integrado de Museus (SIM-SECULT) e trabalhar em um de seus espaços, o Museu do Círio, com os ex-votos patrimonializados iniciou-se o necessário processo de relativização e estranhamento. Outras camadas de sentidos se avolumavam. O presente artigo é fruto deste momento de reflexão diante da imobilidade aparente dos ex-votos no espaço do museu, sempre despertando a necessidade de retornar à vida.

Assim, nos anos de 2012 a 2014, dedico-me a pesquisar sobre os ex-votos e situá-los no contexto dinâmico do Círio de Nazaré. Como parte deste esforço, faço o trajeto que meus familiares fazem todos os anos. Sigo de nossa casa no bairro da Cidade Velha (bairro de saída do cortejo do Círio) até o encontro da Avenida Nazaré e a Avenida Presidente Vargas, caminho que nunca havia percorrido com eles. De câmera na mão, após o alerta de aproximação veiculado pela programação especial da televisão, que acompanha a procissão, dirijo-me ao local de meu registro de forma a antecipar a chegada da santa.

O uso de imagens produzidas durante o esforço etnográfico de registro e análise, é proposta para que possamos superar dicotomias impostas à reflexão sobre a cultura material, neste caso os ex-votos ou promessas, percepções esquematicamente apreendidas como: sujeito-objeto; material-imaterial; individuo-paisagem. Desta forma, a produção de imagens fotográficas e a consideração de seus movimentos e suas relações contextuais, devem servir ao pesquisador para que se reintegrem as coisas nos fluxos[G] da vida.

Investe-se em uma aproximação com o evento performático do pagamento de promessas através da mediação da lente fotográfica. É através do esforço concentrado de captar o detalhe, o momento na produção da pesquisa como uma etapa na construção do estranhamento necessário, na tensão entre morador da cidade, frequentador da festa e o papel requisitado do etnógrafo. O olho de vidro da câmera deve substituir o olho de carne do devoto. Este olho, porém, não rouba a emoção, mas a filtra e a intensifica, fazendo momento novo e revigorando memórias agora reconstituídas. Auxilia no devolver ao estranhamento, porém contraditoriamente envolvendo um fortalecimento do familiar. Ir e voltar, registrar e, posteriormente, retornar as fotos, foi essencial para o estudo pretendido.

No campo do diálogo teórico, como auxílio a esta apreensão, um dos caminhos propostos apresenta o paradigma fenomenológico para o estudo da cultura material religiosa. Morgan (2010a, 2010b) nos fala sobre a matéria da fé e propõe que é necessário atender a questão da crença e entender a crença sem negarmos seus termos somáticos ou materiais. Ou seja, ele argumenta que é necessário olhar para as estruturas materiais, de sentimento e de práticas que compõem a própria crença. Outra de nossas referências para ampliar e compreender a materialidade do sagrado, inspira-se em Ingold (2000, 2011, 2012) em seu projeto amplo de reconsiderar as perspectivas dicotômicas frequentemente fundantes de nosso pensamento como paisagem/indivíduo, objeto/sujeito e humano/não-humano.

Em “Being alive”, Ingold (2011) tem apresentado reiteradamente sua concepção em apreender a experiência comum a todos os seres como organismos não limitados às fronteiras de corpos, objetos, paisagens, invólucros com barreiras duras que impõem rupturas aos chamados que comporiam a vida (INGOLD, 2011). Ou seja, uma paisagem, em consonância com nossas intenções analíticas é unidade coerente do visível, campo de percepção de todos os seres que a habitam, a constituem e são por ela constituídos, fenômeno complexo, não uma moldura, ou palco para inscrição da cultura, um mero substrato material para fluxos materiais, mas fluxos e contra fluxos de um campo relacional que engloba o mundo (INGOLD, 2000; SILVEIRA, 2009; entre outros).

Portanto, ao nos aproximarmos do Círio e seus votos, reflete-se sobre um mundo (MERLEAU-PONTY, 2006) em cujas materialidades e fluxos vitais pretendemos mergulhar referindo-se a esta grande festa que é o Círio de Nossa senhora de Nazaré, em Belém do Grão-Pará e de início devemos apontar que a mesma comemoração surge oficialmente, nos relata a história, de uma promessa (MAUÉS, 1995). Teria sido a promessa (promissum, voto) feita pelo então governador da província que teria iniciado a procissão. Este mesmo aspecto das trilhas das promessas e das dádivas a serem retribuídas estará presente quando relacionamos Nossa Senhora de Nazaré com o primeiro milagre concedido a Dom Fuás Roupinho, na vila marítima e pescadora de Nazaré em Portugal (COELHO, 1998). Essencial destacar o Círio como parte da rede de dádivas e como fruto de uma dádiva concedida, ciclicamente renovada.

2. VOTOS, EX-VOTOS E CÍRIO DE NAZARÉ

É sobre estes objetos sagrados (referidos popularmente como promessas ou ex-votos, ao referir-se já ao seu momento posterior de pagamento) que circulam durante o Círio. Os muitos ângulos e diálogos a serem produzidos em busca de sua compreensão, longe de esgotar sua potencialidade busca construir referenciais para a compreensão das relações corporeidade/artefato-coisa/paisagem. Portanto, necessário apresentar brevemente o Círio, aqui considerado uma “paisagem devocional”.

Desde 1793 acontece em Belém do Pará (Brasil) um dos eventos religiosos católicos mais significativos do catolicismo brasileiro, o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, cuja procissão principal que ocorre no segundo domingo de outubro, percorre as ruas da cidade. São várias romarias, missas e procissões no período de 15 dias. Em destaque a Trasladação e o Círio que recontam a lenda do milagre da santa cuja imagem insistia em retornar ao local da descoberta, nos arredores de núcleo mais antigo da cidade. O Círio apresenta-se como um conjunto integrado de festas e celebrações, assim como rituais paralelos, alguns classificados como “religiosos” outros como “profanos”, em complementaridade, eventualmente em concorrência, cujos eventos mais destacados seriam: “(...)a Trasladação, o Círio propriamente dito, a Festa de Arraial, as Novenas, as Missas, as manifestações paralelas, mas integradas a ele, como a Festa das Filhas da Chiquita, o Auto do Círio, a Feira de Brinquedos de Miriti, os fogos, a Procissão da Festa, o Recírio (...)” (MAUÉS, 2012, p.164).

O Círio é oportunidade de se renovar pedidos e pagar promessas, superando situações que se apresentam como limítrofes e que requisitam a tomada de medidas como a busca da cura, através de engajamentos nos quais o corpo participa das dimensões do sagrado (PAES, 2012, 2013). A procissão principal do Círio de Nazaré, de fato, é um desfile etnográfico, um Cosmos. Vejamos a descrição de Arthur Vianna, historiador paraense (1873-1911), citado em Montarroyos (s/d), no artigo “O Círio” (Jornal “O Pará”, 9 de outubro de 1898):

[G]rande número de devotos, uns que iam implorar-lhe a proteção, aflitos por sentimentos próprios ou de pessoas caras, outros que iam levar-lhe ofertas de cera por pedidos já satisfeitos (...) inúmeras promessas, então feitas de madeira, pés a escorrerem sangue, mãos mutiladas, muletas, braços cobertos de chagas, objetos em geral mal trabalhados a demonstrarem os conhecimentos rudimentares de escultores não profissionais e a demonstrarem também os benefícios da desvelada protetora dos pobres” (MONTARROYOS, s/d, p.238-239).

Àqueles que experimentam o Círio de Nossa Senhora de Nazaré na atualidade, o relato deve trazer certa sensação de familiaridade, pois o registro apresentado poderia ter sido realizado hoje. A descrição dos ex-votos e do sentimento que move o devoto, o espetacular destes artefatos, sua expressividade e impacto à vista, parece não se alterar. O Círio mudou, porém, suas dinâmicas se complexificaram ainda mais, o mercado simbólico que cerca sua realização alcançou um tamanho considerável, todavia a vivência imediata da relação entre santo e devoto, entre salvador e aflito, sua busca em sensibilizar a divindade ou em demonstrar o reconhecimento compartilhado da grandeza da graça recebida é a mesma. Os ex-votos ou promessas materializam essa relação, assim como esta resistência, permanência. Tudo muda, tudo permanece.

No âmbito da reflexão sobre a devoção barroca (MALUF, 2001; MENEZES, 2008), exuberante e emocional, a clássica lógica da dádiva apresentada por Marcel Mauss (2003) é incorporada à análise de DaMatta (1986) para uma religiosidade brasileira, marcada pela mediação, pelo interstícios e circulação. A constante necessidade motora de retribuições mútuas impõe uma dinâmica poderosa, que desafia as fronteiras impostas às categorias do sagrado e o profano. No centro das relações, não simplesmente mediadas, mas construídas na própria matéria dos ex-votos, a ação de prometer, de compromisso e diálogo, a perspectiva da obrigação mútua, insere-se na dramaticidade e densidade de sua produção. Sua precariedade, um momento que se prolonga no tempo, um evento dramático que se pretende circularmente reviver e superar a cada Círio, se encontra com uma profunda vocação sensível de apresentar os dramas que compõe a vida humana, o que torna a performance e experiência da apresentação dos objetos votivos no Círio algo universal.

3. MATERIALIDADES E PAISAGEM VOTIVA DO CÍRIO

O sagrado não está na cabeça das pessoas, razão pura e abstração, não apenas, mas se expressa e se constrói com paisagem, corpo, ritualidade, performance, artefatos com caminhos, passagens e sentidos consubstanciados em suas curvas, ângulos e materiais. David Morgan (2010a, 2010b) refletindo sobre esta matéria da fé afirma que a transcendência não se limita aos aspectos espirituais e sublimes, porém de odores, sons, texturas, os movimentos executados, as cores vistas, os trajes que ornam os devotos, sacerdotes e mesmo as divindades e demais seres espirituais. Discute o que considera os temas principais no estudo da cultura material da religião: a) emoção, sentimento e sensação; b) personificação; espaço e ritual; c) desempenho e prática; e por último, d) estética.

É evidente em sua análise que todos estes temas são baseados na experiência de corporal (corporeidade) dos sujeitos. Daí o corpo e a corporeidade como instrumentos para o estudo do que chama de “cultura material religiosa”. Portanto, revê os estudos que presumem abstrata a "crença", categoria central da religião, muitas vezes reduzindo a religião a um corpo de asserções que exigem parecer favorável. Neste ponto de vista a ser superado, práticas, sensações, emoções, espaços e coisas, quando examinados, são vistos como meras manifestações secundárias ou passivas de crenças anteriores, internas e mais fundamentais é excluir as dimensões mais significativas da experiência do sagrado. É isto que devemos evitar.

Os ex-votos nos permitem aproximação e compreensão do catolicismo popular ou devocional, dentro da perspectiva da complexidade e multiplicidade que marca a identidade religiosa e, especificamente, a identidade católica no Brasil (OLIVEIRA, 2011; MONTES, 2012; DAMATTA, 1986).

O sentido de cada voto (posteriormente, ex-voto) é, ao mesmo tempo, único e coletivo, tanto expressa o conjunto dos problemas e das aflições que marcam a trajetória do devoto, quanto questões comuns à experiência e sentidos referidos à coletividade, dos paraenses e dos brasileiros. Identificam-se na devoção elementos comuns à cultura nacional, tais como a religiosidade popular marcada por característica relação sagrado-profano, público-privado, junto ao culto dos santos, um misto de distância respeitosa e íntima familiaridade (MONTES, 2012). Diz Damatta (1986) o voto é pacto que obriga ambos, devoto e objeto de devoção, em uma relação que supera a aparente contradição entre a experiência de profunda intimidade e a reverência respeitosa, no sentido de resolver o problema apresentado. Ao pedir e oferecer sacrifício, algo precioso eu obrigo a retribuir. Frequentemente o pagamento é feito antes mesmo de recebê-lo de forma a aumentar o poder de persuasão sobre o divino. Maria, mãe de Jesus, figura proeminente no cosmos católico, se destaca neste contexto, pois o imaginário de dores e perseguições a tornam a mediadora excelente para as inúmeras dores e aflições humanas.

Para tanto, devemos pensar na própria categoria “paisagem” e em como ela instrumentaliza nossa compreensão sobre o Círio e seus ex-votos. Na procissão veem-se os promesseiros carregando ex-votosrepresentando casas, barcos, animais, materiais de construção, os corpos e partes do corpo (esculpidas em cera, miriti, gesso ou em madeira) mostrando ao mesmo tempo os males e as alternativas encontradas para a resolução de seus problemas.

A paisagem devocional impõe tempos diversos, sobrepõem experiências espaciais e temporais e constrói-se sob a marca dos corpos, como dito, produzindo corpografias (JACQUES, 2009). Memórias dos corpos que se movimentam no cumprimento do voto e em performance realiza o ex-voto, o publicizando, ao pagar a promessa, apresentando o corpo curado para satisfação de homens e divindade, em uma relação que é literalmente “visceral” como é visto na corda, “artefato-ação”. É mergulhando nesta paisagem que a pesquisa sobre o ato criativo dos ex-votos se apresenta. É em busca deste conjunto que me dirijo à campo para registro fotográfico, para um dos pontos de convergência que constitui esta paisagem devota.

Assim, enquanto procuramos, os devotos e eu, o ponto e momento ideal de nos encontrarmos com a santa, nos vemos cercados pela paisagem transformada do Círio, tudo junto e misturado, todos os caminhos antes desencontrados, agora convergindo. Um destes pontos de encontro e convergência, é a área da Praça da Sereia, com seu belo chafariz, parte do complexo da Praça da República, no ponto de convergência entre duas avenidas essenciais para a circulação na cidade, a Avenida Presidente Vargas e a Avenida Nazaré, ambas no centro da cidade e importantes espaços econômicos e culturais. Ao alcançar a Avenida Presidente Vargas o fluxo processional entra em um “túnel de mangueiras”. Nesta larga avenida se encontra a sombra fresca das árvores altas e fortes. No período entre nove as onze horas, o sol já inclemente, momento em que o fluxo de devotos está circulando na área, o alívio trazido por esta paisagem é disputado.

Os espaços são ocupados, o cenário é escolhido, encontros casuais com conhecidos acontecem, a praça que nos finais de semana é local de encontros festivos, não deixa de ser de tal modo nesta grande festa aglutinadora. Olha-se para um lado e outro, todo espaço disponível é apropriado, as árvores mais baixas são escaladas e servem de plataforma para uma boa visão. De um lado, o palco montado pela prefeitura, o ingresso comprado com antecipação, sua comodidade, algum falariam em imobilidade. De outro lado, a arquibancada da árvore, do chafariz, dos ombros de pais.

Figuras 1, 2 e 3. Mundo praticado. @Anselmo Paes, 2012.

Figuras 1, 2 e 3. Mundo praticado. @Anselmo Paes, 2012.

A cortejo segue, seu ritmo é lento, mas cadenciado, trazendo suas pequenas maravilhas, seus momentos de encanto. A velha senhora traz em sua cabeça o barco de miriti. A multidão é tanta que os indivíduos desaparecem. Se tornam um fluxo, um rio. Um “rio de gente” é chamado. Rememoração não só durante o chamado Círio Fluvial, trajeto de barcos decorados que leva a santa do distrito de Icoaraci ao cais do porto, no dia anterior, mas também da natureza marítima, agora fluvial, do imaginário do Círio amazônico. As cabeças se fundem, os indivíduos ficam menos nítidos, e o barco agora navega neste rio, cobra serpenteando pelo chão, um fluxo entre outros fluxos. Na confluência das duas avenidas, ao final das arquibancadas, um coro entoará músicas saudando a Rainha da Amazônia. São cores, músicas, odores, pele e músculos, o corpo do devoto e os materiais dos votos.

Figuras 4, 5 e 6. Fluxos da paisagem devocional. @Anselmo Paes, 2012.

Figuras 4, 5 e 6. Fluxos da paisagem devocional. @Anselmo Paes, 2012.

O corpo é ex-voto. Não só de barcos, casas e reproduções de cera se fazem ex-votos. De suor, lágrimas, dores e êxtase. Logo a corda, que é artefato e ação amalgamados, chega. Ela cerca e conduz o cortejo principal. A corda grossa e resistente é disputada pelos devotos que seguem na corda durante o cortejo. Cada centímetro é concorrido pelas mãos ávidas. Tradicional apoio à berlinda, a corda se faz cordão umbilical. Alvo de polêmicas e políticas, cortada, festejada, desejada. Os corpos se apertam ainda mais. O corpo é requisitado ao extremo, mas não cede. Vai e vem, levanta-se. É coreografia, porém não é necessário ensaio, só entrega aos movimentos viscerais dos corpos unidos (SARÉ, 2005).

Figuras 7 e 8. Corda do Círio – artefato-performance-paisagem. @Anselmo Paes, 2012.

Figuras 7 e 8. Corda do Círio – artefato-performance-paisagem. @Anselmo Paes, 2012.

Aproxima-se a santa, chega junto à arrepios, mãos erguidas, lágrimas, novamente aciona o corpo, o sagrado e o extraordinário. O ex-voto a segue e a encontra. Alguns seguirão até um dos carros de milagres, são 12 no total. Outros acompanharão ao lado da procissão até seu destino final, a Basílica-santuário. Alguns, ainda, encerrarão sua jornada no momento do encontro. Realizando sua tarefa de tornar pública a relação pessoal, muito íntima com a Senhora de Nazaré, a mãezinha, a Nazica ou Naza, que nos leva a lembrar da amiga, da parente, da vizinha, tantas Nazas nos caminhos de Belém, nome comum que multiplica a presença da mediadora entre meus conhecidos. Familiaridade e assombro.

Figuras 9, 10 e 11. As materialidades da fé e do sagrado. @Anselmo Paes, 2012.

Figuras 9, 10 e 11. As materialidades da fé e do sagrado. @Anselmo Paes, 2012.

Ora, o mundo “(...) não é aquilo que penso, mas aquilo que eu vivo; eu estou aberto ao mundo, comunico-me indubitavelmente com ele, mas não o possuo, ele é inesgotável” (MERLEAU-PONTY, 2006, p. 14), situação que nega o espaço como homogêneo, e que reclama nossas singularidades existenciais, nossa intencionalidade como habitantes de um meio familiar.

4. OS ARTEFATOS VOTIVOS: SEUS CAMINHOS, FLUXOS E ASSEMBLAGE

O campo de circulação dos ex-votos não se limita, nem ao universo do próprio catolicismo, nem se restringe à própria procissão do Círio. Por exemplo, quanto à área simbólica, os ex-votos estarão presentes igualmente nos espaços de expressão das devoções populares do “culto às almas” (MONTEIRO, 2012), em cemitérios e igrejas de Belém (partilhado com o universo cosmológico da umbanda). No que se refere à vida social dos artefatos, considerando a orientação apresentada por Kapytoff (2011), o esforço compreensivo sobre os ex-votos, considerados como etapa de um processo que se inicia com o voto/promessa, requisita que se registre etapas de suas trajetórias possíveis: como o local de origem, que pode ser uma loja de artigos religiosos, o momento posterior à procissão, e mesmo seu retorno ao universo “profano” como mercadoria.

Corpo, paisagem, artefato não são invólucros fechados que se comunicam como outros corpos. Suas fronteiras são vazadas pelos fluxos da vida, chuva, cheiros, texturas, temperaturas, sons, são emaranhados vitais. Ingold (2012), por sua vez, busca afastar-se tanto das abordagens centradas nas pessoas e na subjetividade, assim como das abordagens centradas nos “objetos”, exatamente repensando-os como “coisas”. O processo que busca é inverso ao que aponta como representativo das abordagens sobre “objetos”, concentrados em aspectos funcionais, que sustenta a seu ver uma inadequada dicotomia entre as pessoas, coisas e mundo.

Coisas têm vida, percepção que é trabalhada enquanto “(...) capacidade geradora do campo englobante de relações dentro do qual as formas surgem e são mantidas no lugar” (INGOLD, 2012, p.27). Seu alerta é quanto à redução das “coisas” aos “objetos” e de sua correspondente retirada dos processos vitais, ou seja, não a materialidade, mas o fluxo de materiais (som, textura, atmosfera, líquidos, etc.). Seguir estes fluxos, trilhar os caminhos geradores, nos quais uma coisa é uma concentração destes fluxos, de linhas em uma malha que não conecta, mas aproxima-se e encontram outros fluxos vitais, estes emaranhados são, assim, momentos em fluxos. Propondo a compreensão do mundo e sua dinâmica, as “coisas” estão em fluxo, enquanto os “objetos” são autocontidos; o primeiro refere-se aos processos e o segundo oferece um resultado final; um apresenta-se como o encontro e um emaranhado de linhas de forças, o outro como produto do isolamento dos fluxos vitais; o primeiro é “vida”, o outro é “morte”.

Em contraste com os "objetos", as "coisas" não são uma “(...) entidade fechada para o exterior, que se situa no e contra o mundo, mas de um nó cujos fios constituintes, longe de estarem neles contidos, deixam rastros e são capturados por outros fios noutros nós" (INGOLD, 2012, p. 29) e é esta perspectiva que instrui o esforço de compreensão, do qual surge o método: seguir os processos (fluxos) Ao evitar a distinção entre coisas e pessoas como fundamento analítico, a concepção de que ao invés de atentarmos para a “matéria” devemos pensar em um “mundo de materiais”, assim sugere que trazer objetos (de volta) à vida, indica inserir nos em um mundo em formação, mundo animado em constante fluxo gerativo, considerando que "(...) as coisas vazam sempre transbordando pelas superfícies que se formam temporariamente em torno delas” (Idem, p. 29).

No convívio com os demais técnicos nos espaços museais do SIM, dialogamos e trocamos informações sobre nossos projetos de trabalho, todos em busca de aprimorar a compreensão, assim como a construção do diálogo que é o museu. Cabe neste momento apresentar breve relato recebido. Não consistiu em entrevista, assim o repasso enquanto relato de campo, consistindo em fragmento de conversa diante de outros técnicos, após anuncio de meu interesse e perspectiva de trabalho no Museu do Círio com os ex-votos. Uma de nossas coordenadoras, ao ouvir sobre a pesquisa, apresenta como relato à minha pesquisa que Secretário de Cultura, colecionador de arte, teria comprado uma placa votiva, um ex-voto pictórico, no qual estava representado o doente sendo curado pelo poder divino, sua representação apresentava o doente devoto com o abdômen “aberto”, indicando o ponto corporal do adoecimento. Em um momento posterior, o comprador, que o adquiriu enquanto mercadoria, assim como bem artístico, sofre acidente e se encontra adoecido (em sua própria consideração, nos foi relatado) na mesma área (abdômen, barriga). Ele teria, então, dito à minha interlocutora, que logo após sua recuperação, este teria se “livrado o mais rápido possível” da placa pictórica. Este acreditava que a placa votiva teria atraído o acontecimento e que teria se reproduzido exatamente como ele via na pintura. Este diálogo repassado a mim, permite pensar, sobre como a transição entre sagrado e profano, patrimônio, mercadoria e instrumento mágico não se dá linearmente, mas sobrepõe, contrapõe e não necessariamente apresenta sucessão logica e exclusiva. Este é ponto importante para que possamos bem utilizar a perspectiva apresentada por Kapytoff (2011).

Qualquer artefato pode ser transferido à esfera do ex-voto. Não são ex-votos, tornam-se ex-votos. Ao ponderar sobre os ex-votos, refletimos sobre os votos, ações que vinculam, transformam e acionam corpo e alma do devoto, modificam e constroem paisagens, produzindo um imaginário, materializando a memória.

Ao nos remeter à uma religiosidade popular e investir nas dimensões estéticas e lúdicas que contrapostas ao resistente logocentrismo de nossa sociedade (ESCARDÓ, 2013), expressando projetos de vida e expectativas sociais, assim como revelar dores, mazelas e necessidades no exercício de uma religiosidade popular (e suas profundas dimensões políticas) (DAMATTA, 1986), os ex-votos estão sempre apresentando novas “camadas”, requisitando novas aproximações. Não só ação ou função, mas reflexão, (re)apropriação e reflexão sobre o mundo. A atual consideração é da urgente necessidade de dissolver as fronteiras dos objetos ao considerar “corpo” e “paisagem”, de forma a nos aproximar destes artefatos em sua complexidade.

Um livro, por exemplo, é um conjunto deste tipo, uma assemblage. É uma multiplicidade, apresenta camadas, que sem dúvida, tornam-no um tipo de organismo, ou significando totalidade, ou determinações atribuíveis. O livro é um misturado de peças discretas ou peças que são capazes de produzir efeitos em quaisquer números, uma vez que é um bem organizado e coerente. A beleza de sua montagem é que, uma vez que lhe falta organização, pode dispor em seu corpo qualquer número de elementos díspares. O livro em si pode ser uma montagem, mas seu status como uma assemblage não o impede de contendo assemblage dentro de si mesmo ou entrando em novas assemblage com os leitores, bibliotecas, fogueiras, livrarias, etc.

A concepção instrumental da assemblage (Idem, p.22), número de coisas ou partes de coisas, linhas e velocidades entrelaçadas em um único contexto, tessitura que pode trazer um número de efeitos: sejam estéticos, produtivos, econômicos, etc., assim para alcançar as coisas, como os ex-votos em sua potencialidade, deve-se acessar essa assemblage a partir de ângulos e linhas diversas considerando nossa incapacidade de impor fronteiras, limites e distinções. Um ex-voto pode, como temos visto, participar de uma assemblage de vitalidades, pois seu status instrumental não o esgota ou o previne de conter ou participar de outras assemblage.

5. BREVE CONCLUSÃO

Uma paisagem devocional aprecia e amplia a percepção da paisagem cultural sob prisma fenomênico, considerando a paisagem fluída e efêmera do movimento processional e devoto que constrói e transforma o espaço, o sacraliza, o dessacraliza, contrapõe tempos diversos, sobrepõem vivências espaciais, temporais e imagéticas. O ex-voto não participa, enfim, da paisagem, mas é a paisagem, esta enquanto assemblage de fluxos e performances constitutivas. Nestes termos paisagem se refere a cheiros, música, texturas, corpos. Nenhum destes elementos autocontidos, corpos entre corpos objetos entre outros objetos, mas constituindo uma experiência de fluxos materiais, constituintes de um cosmos.

Coisas são mais que coisas, nos diz Morgan (2010). Ingold (2000, 2011) nos mostra como os invólucros são “vazados” e as coisas “incontinentes”. Deleuze & Guatari (2011) nos apresentam os fluxos incansáveis, que constituem o próprio mundo. Qualquer tentativa de isolar ou procurar um ponto de começo tende a falhar ou se demonstrar arbitrária na assemblage do mundo.

Os ex-votos são processo, uma etapa em um processo contínuo de transformações nos fluxos da matéria e materiais. Sua “biografia” (KAPYTOFF, 2011) nos revelam os caminhos e fluxos da vida, mapeiam a cidade, a constroem, produzem paisagens, entrelaçam. Há múltiplas camadas de sentidos em cada uma de suas assemblage, porém, antes de mais nada, os ex-votos não podem ser pensados como invólucros fechados, suas fronteiras reforçadas, pois eles são produzidos por vários fluxos e constituem novos fluxos. Por isso, neste caso a perspectiva de uma paisagem devocional contribui para seu desvelamento a nossos olhos.

Os estudos sobre as materialidades do sagrado, sobre a cultura material que compartilha das sacralidades do mundo, não os concebem mais isolados do processo performático e denso de sua criação, não mais exclusivamente depositados ou patrimonializados (como encontro no início de meus esforços e pesquisa), voto e ex-votos constroem um cosmos.

As imagens produzidas e apresentadas visam nos aproximar dos fluxos e dinâmicas, acumulando-se e envolvendo-se as imagens, estas que produzem sua própria assemblage. Não são mera ilustração, pois além do aspecto instrumental, que permite orientar a reflexão sobre conceitos relevantes no presente artigo, devem participar da percepção do movimento e dinâmicas próprias da biografia destes artefatos, desterritorializando e territorializando. Apresentam um momento no fluxo, definitivamente incapazes de “conter”, porém permitem que possamos apurar nosso olhar e estranhar, superando percepções estáticas, renovando-se a cada nova incursão do olhar.

Não é possível falar de ex-voto sem falar de voto, não é possível ignorar os caminhos traçados e as marcas na cidade e da cidade, assim como de seus participantes. A jornada em torno destes artefatos, das coisas, que em meu primeiro momento de reflexão apresenta-se junto ao Museu do Círio (considerando meu trabalho como pesquisador e antropólogo junto ao SIM-SECULT), porém levam inevitavelmente para fora do espaço sacralizado do patrimônio museal, sem abandoná-lo, não excluindo, mas incluindo-o. Despertam memórias que incluem todas as esferas do ser. Reapresentam-se incansavelmente, tecendo novos fluxos. O mundo, os ex-votos, as coisas, pedem para serem literalmente seguidas.

REFERÊNCIAS

ALVES, Isidoro. O carnaval devoto: um estudo sobre a festa de Nazaré, em Belém. Petrópolis: Editora Vozes, 1980.

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