Quadrinhos e sociedade: Uma investigação sobre o potencial expressivo da linguagem das histórias em quadrinhos.



Renan Bergo da Silva [!]


Resumo

Apresento aqui uma pesquisa que investigará a formação social das histórias em quadrinhos para, a partir daí, problematizar concepções sociais arraigadas sobre essa linguagem e seus potenciais expressivos. Partindo do fato, constatável em diversas tradições nacionais de quadrinhos, de que a linguagem foi socialmente estigmatizada como um ramo menor entre as manifestações expressivas, pretendo investigar como essa suposta menoridade se constituiu historicamente e que papel teve em direcionar a produção e percepção dos quadrinhos. Proponho, como hipótese, que essa menoridade atribuída teve efeitos profundos sobre na linguagem – como limitações de temas e procedimentos visuais. Investigarei como esse contexto incide em parte da produção brasileira contemporânea, se essas concepções arraigadas ainda ocupam papel determinante na criação e circulação de quadrinhos ou foram superadas. Para isso manterei diálogos com quadrinistas, editores e críticos que, na minha visão, fazem um esforço para expandir os limites nos quais os quadrinhos foram socialmente encerrados.

Palavra-chave: histórias em quadrinhos; sociedade; antropologia visual, antropologia da arte; comics studies. comics; society; visual anthropology; anthropology of art; comics studies.



Abstract

I will present here a research that will investigate the social constitution of comics to, from there, problematize rooted social conceptions about this language and its expressive potential. Starting by the fact – verifiable in a series of comic’s national traditions – that this language was socially stigmatized as a minor branch among the expressive manifestations, I pretend to investigate how this supposed minority was historically constituted and how it orientated the production and perception of comics. I propose, as a hypothesis, that this attributed minority left profound effects on the language – like limitations of themes and visual procedures. I will investigate how this context affects part of the Brazilian contemporary production, if those rooted conceptions still have a determinant role in the creation and circulation of comics or if they have been overcome. For this I will maintain dialogues with cartoonists, editors and critics who, in my view, make an effort to expand the boundaries in which comics have been socially enclosed.

kaywords: comics; society; visual anthropology; anthropology of art; comics studies.


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Quadrinhos e sociedade: Uma investigação sobre o potencial expressivo da linguagem das histórias em quadrinhos.



Renan Bergo da Silva [!]

APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

O presente artigo tem por finalidade apresentar uma pesquisa de mestrado que se inicia. Esta pesquisa pretende refletir sobre algumas questões que dizem respeito à linguagem das histórias em quadrinhos quando em relação com as sociedades nas quais está inserida. A tentativa é sondar de que maneira estão relacionadas determinadas ideias correntes sobre o que são as histórias em quadrinhos com o que de fato essa linguagem tem potencial para ser, ou seja, procurar entender como determinadas concepções sociais cristalizadas - e não propriedades intrínsecas da linguagem - presidiram o entendimento e os usos que se fez dos quadrinhos, coibindo determinadas abordagens e favorecendo outras.

Minha sugestão é que, ao longo dos anos, essa situação de menoridade trouxe problemas para autores que pretendiam criar quadrinhos que não se moldavam tão imediatamente a esse esquema prévio, incitando-os a criar estratégias que dessem conta de esclarecer o não pertencimento de seus trabalhos ao campo limitado pelo qual as sociedades percebem os quadrinhos ou a tentarem operar uma reconceituação do que é (e, por extensão, do que pode) essa linguagem. As tentativas de encontrar outros nomes para a linguaguem e para as obras (Arte Sequencial e Graphic Novel sendo os mais emblemáticos) me parece uma manifestação dessas estratégias. Outro exemplo seria a necessidade de inscrever em determinados livros e revistas em quadrinhos frases como “sugerido para adultos” e outras semelhantes.

Podemos recorrer ao cinema como critério de comparação para entender as questões implicadas na frase “sugerido para adultos”, comum a determinadas publicações de quadrinhos. Imaginemos uma videolocadora, nesses ambientes a organização dos filmes costuma ser dada por gêneros, os genêros são bolsões extremamente abrangentes como Drama, Comédia, Ação, Western e uma prateleira que nos importa aqui especialmente, Infantil.

Cinema infantil é tido como um gênero e se fizermos a experiência de ir até a locadora e procurar a prateleira de filmes infantis, notaremos que uma parte significativa dos mesmos são animações e poderemos encontrar, inclusive, animações não direcionadas ao público infantil perdidas nessas prateleiras. Concluímos daí que o filme de animação sofre da mesma associação imediata com o universo infantil que os quadrinhos, como veremos adiante. Mas para além disso há outra conclusão que podemos tirar e que interessa mais aqui.

A classificação filme infantil opera especificando e separando esses filmes de um conjunto maior, ela nos informa algo a respeito do conteúdo e da estética que podemos esperar deles, ela tranquiliza os pais que procuram proteger seus filhos de determinados temas e questões entendidos como não adequados a uma criança. Em suma, ela diferencia essas produções dos filmes adultos, que constituem o corpus de filmes em geral e do qual os especificamente infantis se diferenciam por oposição.

A designação análoga nos quadrinhos, no entanto, é diametralmente oposta, é aquela que designa os “quadrinhos adultos” ou, expressões com a mesma função como “desaconselhável para menores de 18 anos” ou “sugerido para adultos” ou qualquer outra afim. O que essas expressões nos dizem sobre as percepções sociais de quadrinhos e cinema? Ora, a formulação óbvia é quadrinhos são primordialmente para crianças enquanto cinema é primordialmente para adultos.

Quanto a questão de por qual nome devemos nos referir aos quadrinhos, considero-a como uma pista importante para refletirmos, já fizemos alusão às expressões Graphic Novel e Arte Sequencial, que são manifestações da questão que estamos tratando, mas existem muitas outras. Até onde me foi dado observar, nenhuma outra linguagem apresenta tamanha profusão de designações, seria isso indicativo da questão do problemático status social dos quadrinhos? Podemos tomar esse procedimento de nomeação como um sintoma de que há algo incômodo na palavra comics ou em comic book – assim como nos seus sinônimos em outras línguas além do inglês. É como se essas palavras carregassem um estigma ou se a elas se ligasse toda uma cadeia associativa que remete à infância, à incapacidade de lidar com temas sérios e a outras “desvantagens”.

Outro erro comum é afirmar que quadrinhos highbrow são, de alguma maneira, não exatamente quadrinhos mas outra coisa (preferencialmente com um nome pomposo [...]), diferentes não apenas em grau mas em natureza de seus homônimos da cultura de massas. (WOLK, 2007, p.12).

Douglas Wolk chama nossa atenção em seu livro Reading Comics: how to read graphic novels and what they mean para o quão estranho seria encontrar um procedimento que através de uma mudança de nome procurasse infundir uma ideia de profundidade e seriedade à determinada obra em outra linguagem. Wolk, continuando a passagem acima, nos dá um bom exemplo do estigma ligado ao termo comics, é o que ele chama de “truque se-é-profundo-não-é-realmente-quadrinhos”,

Há certa consciência de classe de nariz empinado inerente nesse argumento particular; que fica evidente, por exemplo, numa resenha de Gloria Emerson no exemplar do The Nation de 16 de junho de 2003. “Nunca tive o hábito de ler gibis [comic books]”, ela escreve, “então eu, num primeiro momento, rejeitei levemente Persépolis de Marjane Satrapi. Mas ela é uma artista tão talentosa e seus desenhos em preto e branco são tão cativantes que parece errado chamar sua autobiografia de um gibi. Antes é uma “autobiografia gráfica” na tradição de Maus, a brilhante história do Holocausto de Art Spiegelman.” Se você não vê o que está errado com essa passagem, imagine ela começando: “Nunca tive o hábito de assistir filmes...,” e terminando por afirmar que, digamos, Syriana não é realmente um filme mas uma “narrativa cinemática” [“cinematic narrative”] na tradição de O resgate do soldado Ryan. (WOLK, 2007, p.12)[1]

Mas se alguns quadrinistas, como Will Eisner e Scott McCloud, tentaram angariar respeitabilidade, seriedade e, no caso de Eisner, uma qualidade literária para os quadrinhos, seja através de nomenclaturas ou outras estratégias, há outra posição que desconfia dessa postura como se ela afastasse os quadrinhos de suas características mais interessantes e poderosas. Entre os que manifestam essa desconfiança podemos citar Robert Crumb, Art Spiegelman e Frank Miller. Crumb certamente não subscreve ao desejo de Eisner de pensar os quadrinhos como literatura.

Quadrinhos dão sua versão bem particular da realidade. Há muitas abordagens diferentes pra eles, mas não é o mesmo que literatura. Quadrinhos são diferentes, e quando um cartunista tenta elevar o gênero, por assim dizer, corre o risco de se tornar pretensioso. Quadrinhos sempre exploraram a sensação e o choque, desde as edições baratas sobre o martírio dos santos ou cenas de batalha no século XVI. As imagens têm que ser fortes. Dá pra ser bem pessoal nos quadrinhos, mas imbuir sutileza literária séria neles me parece absurdo. Há algo de tosco e proletário nos quadrinhos. Se você se afastar demais disso, bem, pode parecer bobo. Não consigo ler boa parte dos quadrinhos sérios e profundos que são feitos hoje. Me parecem um tanto pretensiosos, às vezes. “Leia você – eu não consigo”. Quando penso em aplicar meu talento artístico pra demonstrar como funciona a psique profunda de um indivíduo prototípico, e como ele interage com o mundo, como no grande romance de Flaubert Madame Bovary, a simples ideia me deixa cansado, esgotado... ufa! (CRUMB, 2005, p.123).

Art Spiegelman, em um documentário sobre Will Eisner, refere-se aos perigos da legitimação tão desejada pelo documentado,

Para que os quadrinhos tenham um futuro, é necessário encontrar esse público sério, que deve estar lendo textos sem imagens e vendo filmes sérios. Ainda assim, há uma espécie de perigo só porque as energias mais fortes dos quadrinhos, provavelmente vêm de suas qualidades de transgressão, pelo status de marginal e suas origens no grafite. Esse tipo de vanguardismo é parte do que eu gosto nos quadrinhos. E o perigo de se falar de quadrinhos como uma forma de arte séria, para adultos, é perder isso e ganhar uma respeitabilidade domesticada. (SPIEGELMAN).

Frank Miller em conversa com Eisner diz,

Em ambos os casos [quadrinhos dos anos 1950 e dos 60], eles foram triunfos criativos precisamente por serem ultrajantes e ousados, que é o que eu penso que os quadrinhos foram feitos pra ser. Eu acho que há algo fora-da-lei sobre o meio [medium] que define o que nós somos, e a pior coisa que nós já fizemos foi higienizar nós mesmos. (MILLER, 2005, p.120).
Eu acho que nós estamos numa forma jovem e vital [os quadrinhos] que tem um aspecto perigoso e fora-da-lei ligado a ela, e isso é uma das coisas que amo a respeito dela. (ibid., p.162).
Eu acho que os quadrinhos estão no seu melhor quando são provocativos, e sua natureza fora-da-lei é o que eu quero buscar neles. Nós temos uma forma que não tem o poder visceral, técnico do filme. Cabe ao leitor controlar o tempo. É essencialmente um meio frio [cold medium], o que significa que ele pode carregar mais e mais ideias ultrajantes. (ibid., p.178).[2]

É digno de nota que as colocações de Spiegelman e Miller tenham sido feitas num diálogo direto com as colocações do mais famoso advogado dos quadrinhos como literatura, Will Eisner. O quadrinista brasileiro Odyr Bernardi, em uma postagem em uma página da internet apresenta questão parecida,

Há toda uma tentativa no Brasil agora de trazer os quadrinhos para a sala de visitas, digamos, de forçar uma legitimidade, uma seriedade. É compreensível e justificável. Mas é possível também que algo se perca no caminho. A tremenda liberdade que existia justamente porque ninguém estava olhando, porque ninguém levava a sério. A liberdade de fazer ratos e patos falarem ou heróis voarem ou serem cósmicos. (BERNARDI, 2009).

O receio de perder algo ao levar os quadrinhos muito a sério, a desconfiança da legitimação social pretendida, a ideia da liberdade conseguida ao não ter que prestar contas ao cânone artístico aparece nesses e em muitos outros discursos, outro exemplo,

Eu nunca pensei seriamente em escrever um livro porque eu respeitava muito a literatura e porque eu achava que eu não saberia fazer, o quadrinho te dá uma liberdade, não tem um olhar crítico tão rigoroso, é um lugar onde você pode experimentar muito. (MUTARELLI, 2010).

Esses discursos são indicativos de que os debates no campo dos quadrinhos estão aquecidos e comportam múltiplas posturas em relação à linguagem, me parece que essa vitalidade é importante para o desenvolvimento dos quadrinhos.


Figura 1 - Tira de Seth tematiza os diferentes nomes associados à linguagem

Figura 1 - Tira de Seth tematiza os diferentes nomes associados à linguagem

Fonte: BRUNETTI, Ivan (org.) An anthology of graphic fiction, cartoons, & true stories.

A tira apresentada acima sintetiza algumas das ideias aqui discutidas. O quadrinista canadense Seth usa alguns atalhos visuais para caracterizar o pertencimento de classe e as posições sociais ocupadas pelos dois personagens. O cavalheiro da alta sociedade e o dono da banca de jornal, um sujeito da classe trabalhadora, mimetizam a relação algo conturbada entre graphic novels e comic books, entre quadrinhos que querem entreter, chocar (e, em certos casos, ultrajar) e quadrinhos que, às vezes pomposamente, almejam uma respeitabilidade outra. Estamos, portanto, diante de uma espécie de dicotomia que opera opondo quadrinhos à arte séria e respeitável.

Há uma grande carga de autoironia na tira apresentada. Seth é um quadrinista que resgata e trabalha com certos procedimentos dos quadrinhos comerciais despretensiosos e, também, um respeitado autor de quadrinhos sérios. Um de seus trabalhos foi batizado com a expressão picture novella, certamente mais próxima de graphic novel que de comic book. A tira acima está na sobrecapa da luxuosa antologia An anthology of graphic fiction, cartoons, & true stories, editada por Ivan Brunetti, também quadrinista, pela editora da universidade de Yale, ou seja, estamos longe de um comic book vendido numa banca de jornal.

Entre o quadrinho com pretensões sérias e o quadrinho de entretenimento, talvez seja possível uma síntese. Seth e alguns de seus colegas quadrinistas parecem apostar nisso. Nas palavras de Chris Ware – que além de amigo de Seth, compartilha com ele certos procedimentos estéticos,

Artistas como [...] eu, estão tentando contar histórias fortes com ferramentas de piadas. É como se nós estivéssemos tentando escrever um épico poderoso, profundamente envolvente, ricamente detalhado com uma série de versos humorísticos. (WARE apud ISABELINHO, 2009)[3]

QUADRINHOS E OUTRAS MANIFESTAÇÕES EXPRESSIVAS


Tira de Laerte Coutinho

Tira de Laerte Coutinho

Fonte: COUTINHO, Laerte. Manual do Minotauro (blog).

A tira acima, de autoria de Laerte Coutinho, tematiza as distinções rígidas entre as práticas artísticas. Para se entender a dinâmica social dos quadrinhos, pode-se compará-los com as artes que encontraram um status social mais elevado. A partir dessa comparação é possível formular uma dicotomia que encerraria em domínios diferentes, pouco permeáveis entre si, os quadrinhos e as artes consagradas. O campo dos quadrinhos seria caracterizado pelo entretenimento, pela orientação infantojuvenil, pela efemeridade, pela frivolidade de temas e procedimentos gráfico-visuais. O campo da grande arte, é caracterizado por marcadores que podem ser pensados como diametralmente opostos aos citados acima, sendo associado às questões humanas profundas, ao mundo adulto, à durabilidade no tempo, à sofisticação de temas e procedimentos estéticos. Isto para ficar em apenas algumas das características que marcam esse domínios, características que supõem diferentes funções sociais.

Assim, não é incomum a percepção de que há um lugar menor reservado aos quadrinhos na hierarquia das manifestações expressivas, essa percepção expressa-se nas falas de diversos autores, editores, críticos e leitores. É um discurso corrente na comunidade dos quadrinhos, mesmo que nem sempre problematizado e por vezes usado apenas para vitimizar a condição de quadrinista ou de leitor de quadrinhos perante uma sociedade que - do ponto de vista de quem assume o papel de vítima - não os compreende e os estigmatiza.

Um dos muitos problemas que podem ser identificados nessa dinâmica social é o fato de que as concepções que reprimem e diminuem os quadrinhos não apenas encontram-se fora da comunidade quadrinística, mas fincaram raízes no interior dessa mesma comunidade, uma visão estreita dos potenciais dos quadrinhos é comum entre seus praticantes e apreciadores, segundo alguns analistas. Pedro Franz, quadrinista de Florianópolis, partindo de uma indignação da comunidade quadrinística brasileira gerada por um comentário feito por Zoraya Failla, gerente-executiva do instituto Pró-Livro, em 2013 – comentário que foi amplamente entendido como confirmando o pertencimento dos quadrinhos a um “campo menor” -, localiza a origem do problema no interior dessa mesma comunidade,

As maiores bobagens ditas e o maior “preconceito” que existe sobre as histórias em quadrinhos são do próprio meio. Não me surpreende em nada ver o que a tal Zoraya Failla disse. Esse tipo de pensamento é reflexo de um campo artístico que, salvo raras exceções, sempre associou as histórias em quadrinhos à infância e a uma leitura ligada ao nostálgico. (...) A questão é: qual a responsabilidade de autores, críticos, leitores, mídia e instituições do meio dos quadrinhos na perpetuação desse chamado “preconceito”? (FRANZ apud ASSIS, 2013).

No entanto, se essa dinâmica pode ser observada no interior do que estou chamando de comunidade quadrinística (as pessoas que se congregam em torna da produção, distribuição e consumo de quadrinhos), isso não significa que os problemas não estejam também na relação dessa comunidade com o campo social englobante e suas instituições. Não por acaso, num livro que pretende escrutinar a dinâmica entre os quadrinhos e a arte - em especial as artes plásticas -, seu autor, Bart Beaty, escolheu o sugestivo título Comics Versus Art (2012), a escolha da palavra versus para marcar a relação entre os dois campos é sintomática dessa mesma relação e uma miríade de exemplos poderia ser aventada para ilustrar a tese de uma oposição conflituosa entre esses domínios, o dos quadrinhos e o da grande arte. Beaty sugere, em dado momento de seu livro, que os quadrinhos podem ser conceituados como “o outro da arte”.

Para ficar em um caso da referida relação, é instrutiva a entrevista que Lourenço Mutarelli, quadrinista e escritor – entre outras ocupações –, deu à revista virtual O Grito! no ano de 2008 onde detalha as diferenças de tratamento que lhe foram dispensadas quando participou de um mesmo evento em duas ocasiões distintas, uma como escritor e a outra como quadrinista. Tais diferenças incluem: o hotel onde ficou hospedado, o transporte colocado à sua disposição e, significativamente, seu cachê. Penso que nem é preciso dizer aqui qual categoria lhe valeu as melhores condições.

Dentre os autores que procuraram trabalhar teoricamente esse problema, além de Beaty, Thierry Grooensteen é um dos mais destacados, ele isola cinco “desvantagens simbólicas” que teriam, ao longo do tempo, impedido os quadrinhos de ascenderem ao mesmo nível e gozar do mesmo prestígio social que outras manifestações expressivas.

As desvantagem simbólicas, segundo Grooensteen são 1) Uma qualidade “impura” (aos olhos de certa concepção ocidental de arte) devido à mistura entre texto e imagens, 2) A associação histórica entre quadrinhos e infância, 3) Outra associação histórica, essa entre quadrinhos e caricatura, considerada um ramo menor nas artes visuais, 4) O não engajamento ativo dos quadrinhos nos procedimentos visuais propostos pelas vanguardas do século XX e, finalmente, 5) a dimensão reduzida e a multiplicidade das imagens de quadrinhos. À essas desvantagens certamente poderíamos procurar e acrescentar outras, no entanto essas cinco já dão conta de apontar para o tamanho do problema.

É importante salientar que das cinco desvantagens, ao menos quatro (a possível exceção é a quinta desvantagem) apontam diretamente para fatores histórico-sociais de deslegitimação da linguagem, não sendo portanto problemas intrínsecos à mesma. O status de menoridade é uma complexa construção histórico social – algo que os membros da comunidade dos quadrinhos reconhecem há tempos – e não diz respeito à limitações endógenas da linguagem, como ainda parece formular o senso comum.

A PESQUISA

Minha intenção, no processo do pesquisa, é partir das ideias aqui aventadas para investigar, junto a atores privilegiados – quadrinistas, editores, críticos - da cena contemporânea de quadrinhos do Brasil, a persistência ou superação na produção, distribuição e recepção de quadrinhos dos aspectos apresentados nesse texto. Os quadrinistas ainda estariam limitados em suas possibilidades expressivas pela concepção social restritiva que marcou tão profundamente a história do meio, ou isso são águas passadas? O ofício de quadrinista encontra reconhecimento social, ou essa atividade ainda permanece relegada a uma espécie de marginalidade econômica e social?

Não é difícil constatar que nas últimas três ou quatro décadas o status de menoridade dos quadrinhos e as restrições temáticas e expressivas impostas à linguagem estão se modificando amplamente, diversos tipos de sensibilidades artísticas, procedimentos plásticos e gráficos, temas e inovações formais inéditos ou incomuns puderam ser observadas num crescendo. Isso aconteceu em diversos contextos nacionais como nos Estados Unidos, França-Bélgica, Japão (possivelmente as mais consolidadas tradições nacionais de quadrinhos), entre outros. Um comentário recente de Luis Fernando Verissimo, que além de escritor é também quadrinista, esclarece e exemplifica a manifestação dessa dinâmica no Brasil,

Que quadrinhos são outra forma de arte não é novidade, o notável é como ela se distancia das outras, como aumenta a diferença. Os quadrinhos não ficaram mais literários, nem mais cinema impresso ou arte plástica, ficaram mais essa outra coisa. O que, não sei. Só sei que é fascinante. Hélio Jesuíno e Patati são dois grandes praticantes da outra coisa. Estas histórias, se é que ainda cabe o termo, são exemplos de uma sensibilidade e de uma expressão que ainda não existiam no mundo. Pelo menos, não no tempo em que eu lia o Capitão Marvel. (VERISSIMO, 2014).

Esse movimento de ampliação das possibilidades expressivas e de legitimação social vem sendo intensificado a cada nova geração de autores. Seguros das conquistas das gerações anteriores, cada geração força, à sua maneira, as fronteiras estreitas onde se encerrou socialmente os quadrinhos. Nesse contexto, o Brasil contemporâneo apresenta uma diversidade na produção de quadrinhos provavelmente sem paralelos no que poderíamos chamar de "história dos quadrinhos brasileiros". É o que Érico Assis constata, ancorado numa fala de Laerte Coutinho proferida no Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizionte, o FIQ, em novembro de 2013.

Numa das primeiras perguntas da plateia, Laerte foi questionado quanto ao que pensava do panorama dos quadrinhos no Brasil. Parafraseio a resposta: só o Festival ali em volta era prova de que não existe mais só o quadrinho brasileiro, mas os quadrinhos brasileiros.
Laerte estava falando da variedade de gêneros, de formatos, de estilos, de públicos, de temas, de variação que se vê na produção atual. Se nos anos 70, quando ele começou, havia poucas opções fora dos gêneros de massa, o que se vê hoje é a consequência do movimento que buscou mostrar as HQs como opções de leitura que podem abarcar o infantil, o adulto, o super-herói, a biografia, a filosofia, a arte experimental, a simplicidade estilizada, o underground, o cômico, o ensaístico e virtualmente tudo que se queira fazer com imagens e palavras. (ASSIS, 2013).

Essa dinâmica, que vem se intensificando no caso dos quadrinhos, apresenta similaridades com dinâmicas já ocorridas com o cinema e a fotografia. Essas duas práticas expressivas também precisaram angariar respeitabilidade, sendo num primeiro momento entendidas como “menores” diante das artes já consagradas.

Da observação dessas dinâmicas podemos aferir que novas formas expressivas, quando surgem, precisam, de alguma maneira, ser classificadas socialmente. Classificação que só é possível em relação às formas expressivas pré-existentes e que carregam sempre um elemento de conflito, como se as antigas formas expressivas não quisessem ceder o status que possuem às novas, ou como se pudessem farejar que essas novas modalidades tomarão para si algumas das funções antes reservadas a expressões já existentes, seriam portanto ameaças. Podemos verificar esse último caso na relação inicial entre fotografia e pintura.

Walter Benjamin analisou atentamente essas dinâmicas nos casos da fotografia e do cinema. No caso dos quadrinhos, esse trabalho ainda precisa ser feito e as dinâmicas e debates estão fervilhando. Nessa frente, autores como os já citados Bart Beaty e Thierry Groensteen têm produzido, dentro do âmbito acadêmico, trabalhos interessantes. Há ainda uma série de textos e reflexões sobre tais questões que não estão academicamente formalizadas mas pululam em blogs, entrevistas, conferências, palestras, mesas redondas, feiras, revistas especializadas, etc.

Na tentativa de forjar uma imagem um pouco mais clara dessa dinâmica vibrante e de sua relação com dinâmicas anteriores comparemos o comentário de Beaty sobre quadrinhos e o de Benjamin sobre fotografia.

“A controvérsia travada no século XIX entre a pintura e a fotografia quanto ao valor artístico de suas respectivas produções parece-nos hoje irrelevante e confusa.”(BENJAMIN, 1996, p.176).

“No futuro, parece provável que a distinção firme entre o mundo dos quadrinhos e o mundo das artes será vista como curiosamente antiquada, uma coisa do passado.” (BEATY, 2012, p.13).

Se aceitarmos que esta é uma questão extremamente viva que ainda não se converteu numa curiosidade antiquada, será interessante perceber em que medida o status de menoridade dos quadrinhos afeta seus praticantes e apreciadores e em que medida foi superado. É com isso em vista que analisarei parte da produção brasileira contemporânea de quadrinhos, focando a olhar em autores e trabalhos que, no meu entendimento, estão de alguma maneira dialogando com o tipo de dinâmica apresentado aqui. Pretendo manter uma interlocução com autores, editores e críticos que estão buscando, conscientemente ou não, expandir os limites da linguagem, pessoas que no seu dia a dia e na sua produção enfrentam algumas das questões aqui expostas. Pretendo fazê-lo através de análises dos materiais publicados, de diálogos e de incursões em determinados espaços privilegiados: eventos como feiras de quadrinhos e de publicações, estúdios, lojas especializadas.

Se eu, teoricamente, me debato com tais questões é de se esperar que aqueles que se dedicam cotidianamente à prática de fazer quadrinhos encontrem-na também, e é com eles que quero dialogar. Pessoas, coletivos e publicações como Pedro Franz, Rafael Coutinho, Rafael Sica, Rafael Campos Rocha, Diego Gerlach, D.W. Ribatski, Laerte, Odyr Bernardi, Lovelove6, Lourenço Mutarelli, Rachel Gontijo, Érico Assis, Ciro I. Marcondes, Samba, Beleléu, Cachalote, Nébula, Antílope, Suplemento, entre muitos outros, estão mantendo viva uma produção diversificada e plural e aludem a essas questões em certos projetos ou declarações.

BREVE NOTA SOBRE REFERENCIAL TEÓRICO

Pierre Bourdieu é sem dúvida uma importante referência para pensarmoms as situações envolvidas na legitimação do campo social dos quadrinhos. Essa percepção não é nossa, desde 1975 no primeiro número da revista editada pelo próprio Bourdieu, Luc Boltanski apresenta uma pesquisa que teve por intuito aplicar o instrumental teórico analítico bourdiano ao campo da Bande Dessinnée, as histórias em quadrinhos franco-belgas.

Num artigo publicado em 1975 no primeiro volume da revista Actes de Recherche en Sciences Sociales, editada pelo sociólogo Pierre Bourdieu, Luc Boltanski procura relacionar as mudanças no status cultural dos quadrinhos à mudanças sociais e culturais mais abrangentes. Ao fazer isto, ele utiliza termos e conceitos do trabalho de Bourdieu [...] estes termos ainda serão relevantes para discussõess sobre o status das histórias em quadrinhos nas décadas seguintes. (MILLER, 2007,p.30)[4]

Certamente a análise de Boltanski foi uma das primeiras a procurar pensar os quadrinhos numa perspectiva das ciências sociais, com a novidade, a meu ver uma vantagem, de não optar por uma análise que olhasse para o material como um produto da cultura de massas funcionando como mero repositório da ideologia capitalista reinante (sem menosprezo a análises deste tipo que podem vir a cobrir áreas de estudo importantes, porém é preciso cuidado com um dos perigos colocados por esse tipo de análise, a saber, a generalização de produções muito diversas sob um mesmo rótulo).

Esta análise também se afastava de outra tendência do estudo acadêmico dos quadrinhos em voga à época, a tendência semiológica, sem dúvida importante e com diversos desdobramentos contemporâneos, mas que não se propunha dar conta dos aspectos sócio-antropológicos vinculados à essa prática expressiva. Ann Miller constata a proliferação dessa tendência e a eventual abertura para outras abordagens “trabalhos acadêmicos sobre quadrinhos desde os anos 1990 na França e Bélgica continuaram a investigar práticas significativas de quadrinhos, mas evitaram a dependência num modelo linguístico” (MILLER, 2007, p.67).

O trabalho de Boltanki é referido em Reading Bande Dessinée – Critical Approaches to French-language Comic Strip, livro de Ann Miller, que faz uma leitura cronológica dos quadrinhos franco-belgas. Na pesquisa exposta nete livro encontro aspectos que dialogam com a pesquisa que estou conduzindo. Miller faz intenso uso de categorias construídas por Bourdieu para a análise do desenvolvimento e das tensões no campo dos quadrinhos franceses e belgas durante a década de 1970 até meados da primeira década do século XXI. É a partir de ideias como distinção, capital cultural, consagração, entre outras que a autora lerá uma série de eventos.

Entre os eventos que fizemos menção podemos mencionar a construção por parte do governo do Centro Nacional de Histórias em Quadrinhos e da Imagem (Centre National de la Bande Dessinée et de L'Image) em Angoulême, pequena cidade famosa por abrigar um dos principais festicais de quadrinhos do mundo. Junto a criação do centro foi criada também um curso experimental de quadrinhos na Escola de Belas Artes de Angoulême, que formou artistas que viriam a ser importantes no cenário francês. A criação de jornais e revistas com foco no pensamento e na crítica de quadrinhos também tem importância considerável, a mais representativa destas revistas foi a Les Cahiers de la bande dessinée. Os estudos acadêmicos também são aventados como trazendo importantes contribuições para a consagração cultural do campo.

O caminho aberto por Boltanski e Miller, ao utilizarem os conceitos de Bourdieu, será de grande ajuda para o desenvolvimento de minha pesquisa, ter um termo de comparação com as situações da França e Bélgica e como a legitimação cultural dos quadrinhos impactou produção, distribuição e recepção por lá será importante na construção do nosso próprio panorama, na análise do caso brasileiro. Entretando, sinto-me impelido a ressaltar que não investirei numa exaustiva pesquisa macrossociológica que dê conta de explicar detalhatamente causas e efeitos da legitimidade cultural ou falta da mesma no campo dos quadrinhos no Brasil. Antes, minha proposta é uma etnografia junto a autores, editores e críticos procurando compreender a maneira como esse quadro macro afeta suas práticas diárias, seu trabalho e seu pensamento.

Ann Miller, parte ainda de Bourdieu para fazer uma análise da representação de habitus de classes em histórias em quadrinhos específicas,

Objetos, prácticas culturais e o próprio corpo podem ser vistos, então, como signos que permitem às classes dominantes distinguirem-se das classes socialmente inferiores à elas. Relações de poder podem, portanto, ser reproduzidas indiretamente ao invés de o ser por repressão direta, é o que Bourdieu se refere como ‘batalho simbólica’ (Bourdieu 1979: 230). Uma arma adicional nessa batalha é a linguagem, através da qual ‘violência simbólica’ pode ser exercida (Bourdieu and Thompson 2001).
Em A Distinção, Bourdieu põe em foco o habitus de três classes: a classe dominante, a pequena burguesia e a classe trabalhadora. [...] Nós iremos exemplificar todos esses tipos de habitus através de séries de quadrinhos. (MILLER, 2007, p.180)

Essa análise sem dúvida é profícua e válida. Podemos certamente propor também a utilização de uma análise que leve em conta as questões levantados por Bourdieu em A Distinção em relação ao próprio hábito de leitura de história em quadrinhos e em como ele pode ser uma marcador de pertencimento a uma determinada classe, ainda mais se seguimos o contraste entre quadrinhos X grande arte. Os quadrinhos estiveram - desde os primóridios de sua cristalização como prática expressiva - ligados ao povo, à classe trabalhadora, eram pequenas histórias despretensiosas publicadas em jornal, recheadas de humor violento e com influência do vaudeville. Como o quadrinista Robert Crumb apontou, numa das citações deste artigo, “Há algo de tosco e proletário nos quadrinhos. Se você se afastar demais disso, bem, pode parecer bobo” (CRUMB, 2005, p.123).

O projeto aqui esboçado pretende caminhar por uma vereda transdisciplinar, nela, autores como Bart Beaty e Thierry Groonsteen me orientarão nas questões específicas relacionadas aos quadrinhos. Há também críticos que correm por fora da academia mas me apresentaram atalhos que ajudaram a construir um pensamento sobre esse campo específico, entre eles Domingos Isabelinho, Pedro Moura e Noah Berlatsky. Pretendo trabalhar com entrevistas e depoimentos colhidos junto aos meus interlocutores e com textos, entrevistas, depoimentos, comentários que esses autores tenham feito em outro contexto, que não mediei. Autores com importantes contribuições à sociologia da cultura, como Pierre Bourdieu, Howard Becker, Walter Benjamin e Michel de Certau irão me oferecer aportes teóricos importantes para tratar das relações entre formas expressivas, instituições artísticas e sociedade. Cornelia Eckert, Etienne Samain, Alfred Gell, Markus Banks, David MacDougall entre outros, são antropólogos que me ajudarão a construir as relações possíveis entre Antropologia e Imagem. Pretendo adotar uma abordagem que ofereça grande primazia aos meus interlocutores, os sujeitos de minha pesquisa, na construção da reflexão, procurando construir um pensamento com eles e não exatamente sobre eles.

Em síntese, pretendo construir uma reflexão que utilize como ponto de partida as questões que apresentei aqui. Partirei dessas questões para investir na construção de um panorama, uma cartografia que será construída em conjunto com atores privilegiados da comunidade dos quadrinhos. Penso em apresentar aos meus interlocutores algumas das ideias que isolei sobre o lugar dos quadrinhos na sociedade e suas relações com outras práticas expressivas e obter deles apontamentos sobre as questões expostas, bem como outras que eles entendam como importantes. Um procedimento que tem como meta a construção de um conjunto coeso de ideias e não o encontro de respostas inequívocas.

REFERÊNCIAS

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[1] As citações a Wolk são traduções minhas. Mantive expressões originais entre colchetes quando julguei adequado.

[2] As referências a Miller são traduções minhas.

[3] Tradução minha.

[4] . Esta e outras citações de Mille