Entre o protagonismo, a resistência e o cotidiano: Um ensaio fotográfico sobre Mulheres Tembé-Tenehara




Shirley Panaforte [!]



Vinte anos atrás agente não tinha muito autonomia. A gente era muito submissa, primeiro aos pais, depois ao marido e isso era muito forte. [...] A mulher não tinha coragem nem permissão. [...] Agora nós já saímos para representar a aldeia, sem homem por perto. Mas não são todas que podem fazer isso. Daqui mesmo, apenas eu e minha prima conseguimos conquistar estes direitos. Ainda são poucas as que ficaram livres.


Este trabalho é um desdobramento do Projeto “Patrimônio Cultural Tembé- Tenetehara: Terra Indígena Alto Rio Guamá” realizado, pelo Grupo de pesquisa mediações e discursos com sociedades amazônicas – GEDAI/CNPq, no período entre 2012 a 2015. Os Tembé-Tenehara ocupam a Terra indígena Alto rio Guamá – TIARG e vivem entre os rios Guamá e o Gurupi, no estado do Pará.

A mulher indígena possui um papel social e político estratégico na luta pelos direitos à dignidade de seu povo. E as mulheres Tembé-Tenehara, também discutem questões políticas decisivas para suas aldeias. Elas assumem responsabilidades significativas dentro e fora de sua sociedade. Interagem com os saberes tradicionais e outras atividades fora das aldeias, como exemplifica a epígrafe que abre este texto. Tecendo um complexo e emaranhado fio entre diferentes identidades. Elas são: mães, caciques, pajés, ativistas, universitárias, professoras, enfermeiras.

Este ensaio faz um registro do cotidiano, inscritas em mosaicos de tempo e infinitas partículas de luz. “As fotografias guardam fragmentos do tempo” Sontag (2010). E, também, paralisam uma ação, como nos ensina Dubois (2010) “A imagem ato fotográfica interrompe, detém, fixa, imobiliza, destaca, separa a duração, capitando dela um único instante”.

As fotografias aqui estudadas deixam ver, em pequenos quadros, os traços dos modos de vida de mulheres Tembé-Tenehara: como se vestem, como gesticulam e como interagem com o meio ambiente. São retratos que mostram, um pouco de seus dia-a-dia nas aldeias. E contam uma história presente.



“A imagem, em especial a imagem fixa, é complexa... Basta prolongar o tempo de um olhar posto sobre ela, sobre sua face visível para, logo, descobrir que a imagem nos leva em direção a outras profundidades, outras estratificações, ao encontro de outras imagens” Samain (2012).


É nesse sentido, que guardamos um dos últimos registros fotográficos, da vida de Verônica Tembé, uma das mais importantes lideranças dessa sociedade. Profunda conhecedora dos saberes da medicina tradicional, da história e dos rituais do seu povo. Empenhou-se em manter viva a produção dos objetos culturais, assim como, foi incentivadora da prática e do aperfeiçoamento do grafismo corporal. Durante décadas foi responsável pela organização das festas, pelo preparo de remédios, bem como, pelo aconselhamento dos mais jovens.

Verônica Tembé faleceu, durante a elaboração deste projeto. E, aqui, em nome da nossa profunda admiração e do respeito, por sua força, empenho e dedicação, pela causa indígena Tembé-Tenehara, oferecemos-lhe esta pequena homenagem.

Referências.

DUBOIS, P. O ato fotográfico e outros ensaios. Campinas, São Paulo: Papirus, 2010.

SAMAIN, E. As peles da fotografia: fenômeno, memória/arquivo, desejo. Visualidades, Goiânia, v. 10, n. 1, p. 151-164, jan./jun. 2012. Disponível em: http://www.revistas.ufg.br/index.php/VISUAL/article/viewFile/23089/13635 Acesso: out. 2015

SONTAG, Susan. Sobre fotografia. São Paulo: Companhia das letras, 2010.




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