Sobre disciplina e espontaneidade:
Panorama visual de atividades escoteiras.




Caio Fernando Flores Coelho [!]



Este ensaio fotográfico traz imagens da pesquisa de campo que realizei sobre o movimento escoteiro no estado do Rio Grande do Sul.“A Dádiva de Si: estudo etnográfico sobre movimento escoteiro” disserta sobre práticas de trabalho voluntário de escoteiros, assim como investiga os ritos de passagem que envolvem atingir a maioridade para jovens deste movimento juvenil.

O movimento escoteiro é, no Brasil, uma associação voluntária que trabalha com jovens de diferentes idades (dos 07 aos 21 anos) através de um projeto educacional baseado em “atividades ao ar livre”. Na prática, este movimento configura-se como uma atividade extracurricular que se realizaem finais de semana em ambiente aberto: acampamentos, jornadas, mutirões voluntários, reuniões etc.

As fotografias aqui reunidas oferecem um panorama visual do que encontrei em campo e, a partir delas, proponho uma narrativa visual sobre as práticas dos escoteiros quando realizam estas atividades. Na tentativa de compreender diferentes tipos de ações em sua completude, apresento momentos de descanso, conversas informais, atividades de limpeza em mata nativa, atividades aquáticas, detalhes do cotidiano e do ambiente onde estes escoteiros se encontram. Estas fotografias foram registradas nos anos de 2011 e 2012 em diferentes locais: Ilha do Pavão em Porto Alegre e no Parque de Eventos da cidade de Caxias do Sul.

Nota-se através dos registros realizados a farda militaresca que estes jovens usam, assim como a importância do culto à bandeira que ocorre nestas atividades. Ao mesmo tempo, a versatilidade em relação a forma como este uniforme é usado, sendo readaptado à necessidade, reflete a natureza diáfana do papel da disciplina entre pessoas tão jovens.

O principal identificador visual que estes escoteiros “portam sobre si” acaba por ser o lenço triangular enrolado que usam ao pescoço. Feito em diferentes cores, padrões e estéticas, ele funciona como um símbolo de diferenciação entre os grupos escoteiros e acredito ser importante notar que mesmo quando os jovens removem os outros adereços que compõem sua farda, este pano permanece ao pescoço. Outro ponto que cabe salientar é a mistura de meninos e meninas nas mesmas equipes e atividades. Não posso me estender sobre este tema, mas politicamente os escoteiros têm desenvolvido um pensamento progressista desde os anos 1970 em relação ao debate sobre gênero e, atualmente, sobre a questão da diversidade sexual.

O olhar que coloco sobre este tema não reflete com acuidade um registro documental estruturado do cotidiano destes jovens, mas oferece, ao invés disso, um olhar familiar. Isso se deve principalmente ao fato de que realizei um longa observação-participante entre estes grupos. Podendo, com a facilidade do entrosamento, obter imagens mais espontâneas.

Referências Bibliográficas

ACHUTTI, Luiz E. R. Fotoetnografia: Um estudo de antropologia visual sobre cotidiano, lixo e trabalho. Porto Alegre: Tomo Editorial, 1997.

ACHUTTI, Luiz E. R. Fotoetnografiada Biblioteca Jardim. Porto Alegre: Editora da UFRGS: Tomo Editorial, 2004.

BATESON, Gregory. MEAD, Margaret. Balinese Character: a photographic analysis. New York: New York Academy of Sciences, 1942.

FAVRET-SAADA, Jeanne. “Ser Afetado”. In Cadernos de Campo, n. 13, p. 155-161, 2005.

SONTAG, Susan. Diante da dor dos outros. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.




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