Caminhada de Mulheres em Brasília, em maio de 2016




Denise Cardoso [!]



As mulheres tem se manifestado politicamente e o protagonismo se revela em diferentes contextos como é o caso das relações sociais de trabalho, na produção de conhecimento científico, na política partidária, nas artes em geral e nos diversos movimentos sociais. A diversidade também se faz notar quando o protagonismo político é evidenciado de modo mais acentuado, como foi o caso da Marcha de Mulheres ocorrida no dia 11 de maio de 2016, em Brasília, capital federal. A motivação maior para este ato foram os acontecimentos políticos que passaram a ocorrer no Brasil e que culminou com o afastamento da presidenta Dilma Roussef. Nesta data, ocorria a IV Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres (CNPM), realizada no Centro de Convenções Ulisses Guimarães, em Brasília, cujo objetivo maior deste evento era a consolidação de documento que englobasse as demandas de mulheres apresentadas em Conferências Municipais e Estaduais, ocorridas ao longo do ano de 2015.

Neste cenário, as mulheres oriundas de diversas regiões do país, traziam questões relacionadas às particularidades regionais como também das diferentes identidades de mulheres negras, indígenas, ribeirinhas, ciganas, mulheres portadoras de necessidades especiais, mulheres trans e mulheres lésbicas, mulheres trabalhadoras em diversas áreas, apenas para citar algumas dessas especificidades. Não obstante, para além da diversidade era evidente que havia algo que as unia para além de suas marcas sociais, pois elas compunham um grupo coeso de mulheres. Era uníssona a intenção de manter e ampliar garantias de seus direitos conquistados nas últimas décadas graças aos movimentos de mulheres.

Ao longo de três dias ocorreram as reuniões por grupos de delegadas organizados em eixos de discussão, cujos resultados foram levados à plenária. Destacaram-se na aprovação do documento as demandas preferenciais dentro do conjunto daquilo que fora discutido nas etapas anteriores a IV CNPM. Eu estava participando desta Conferência na condição de relatora e pude observar vários aspectos ao longo dos dias de sua realização. E ao mesmo tempo em que contribuía na relatoria, percebi a intenção de várias das mulheres em organizar uma manifestação a favor da manutenção da democracia e contra a ameaça eminente de golpe de Estado no país. Após a realização dos trabalhos do dia 11 de maio, a maioria das duas mil delegadas presentes se dirigiu caminhando do local do evento em direção ao Congresso Nacional, especificamente para o Senado – onde ocorreria a votação da então ameaça de impedimento da Presidenta da República.

Naquela tarde pude vivenciar de perto um dos momentos mais importantes da história recente do país. Eu me vi em meio às mulheres que lutam por conquistas não apenas para si, mas para diversos povos que compõem a sociedade brasileira. Com meu aparelho celular passei a registrar imagens desta caminhada. E eram tantas mulheres gritando palavras de ordem em prol do Estado Democrático de Direito; várias mulheres lutando pela igualdade social e superação de preconceitos; muitas delas unidas na diversidade a partir do desejo pelo respeito de si da sociedade mais ampla. Acompanhadas por um aparato policial, ovacionadas pelos transeuntes e motoristas que por lá passavam, estas mulheres representaram não apenas a elas, pois traziam nesta caminhada o anseio de milhões de brasileiros e brasileiras.

Foi uma experiência de impacto, pois uni de modo intenso e emocionante o exercício acadêmico com vivência da participação política como mulher. 




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