Máscaras, Danças e Maracás
Imagens sobre Espiritualidade Ameríndia
da Coleção Etnográfica Carlos Estevão de Oliveira




Renato Athias [!]



As fotografias deste ensaio foram selecionadas[1] com o objetivo de apresentar as ritualidades de cinco povos indígenas que habitam os estados da região Nordeste do Brasil. As imagens mostram a relação desses povos com a natureza e com a espiritualidade neste conjunto de fotografias de Curt Nimuendajú e Carlos Estevão de Oliveira. Estas imagens são dos povos: 1) Ramkokamekrá do Maranhão, mostrando o ritual do Kokrit com a confecção das máscaras especificamente feitas para essa festa. 2) Tremenbé de Almofala do Ceará, mostrando  a dança do Toré e a utilização da bebida Mocororó, importante para a ritualidade desse povo. Os 3) Tuxá de Rodelas mostram as danças e o ritual com a bebida da jurema. 4) Fulni-ô de Águas Belas, mostram, com muita plasticidade, a dança  do Toré com os búzios, instrumentos musicais apropriados para esse ritual na aldeia. Os 5) Pankararu do Brejo dos Padres, em Pernambuco mostram a dança do Toré, onde o vinho de ajucá, preparado da jurema, está presente em todo ritual. Essas fotografias foram realizadas entre os anos de 1935 a 1942 e fazem parte de um acervo que está em estudo através de um projeto de pesquisa em execução pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Etnicidade com o apoio de Museu do Estado de Pernambuco.

Todos esses rituais fazem partem de calendários específicos em cada um desses povos e são representados em lugar especial em cada uma das aldeias. Este ensaio interessa-nos mostrar os aspectos comum nessas práticas que se fazem parte organizada da  relação desses povos com o sobrenatural em momentos do vida cotidiana desses povos. Além do calendário esses rituais são desenvolvidos com uma ordem conhecida do grupo e reproduzida a cada ano em seus detalhes. A dança e a música são especificas para  cada um dessas expressões ritualísticas, pois são eventos que um  grupo amplia, colocam e evidencia uma cosmologia compartilhada que se expressa na racionalidade da vida social. E em geral esses eventos pode ser interpretado e a partir deles apreender a realidade cosmológica de um determinado grupo.

Os Pankararu do Brejo dos Padres(PE) nesse ensaio, mostram através dessas fotografias a festa das Corridas do Umbu, a mais importante que marca a identidade Pankararu. O início desta festividade anual (desenvolvida em quatro finais de semana) se dá com a flechada do primeiro umbu, em seguida as mulheres saem para coleta do umbu e preparar a cesta que será levada para os dias da festa e nesse dia o casal vai dançar e ser açoitado por uma ortiga conhecida por cansanção. A outra Festa retratada nesse conjunto de imagens é a do Menino do Rancho. Um ritual de iniciação do jovem Pankararu. Nessas fotos encontramos também as mães de praiás (representação dos encantados nesse mundo) realizando suas obrigações com o vinho de ajucá produzido a partir da Jurema. Os Tremembé de Almofala (CE) como os outros grupos também, convivem com diversos grupos sociais numa situação interétnica bastante complexa, heterogênea e tensa. Desde a segunda metade do século XX, tem havido grave problema de concentração fundiária e controle dos fatores de produção, sobretudo a terra, por parte de proprietários, comerciantes e posseiros. Esse conjunto fotos dos Tremembé que mostram o Torém dançado na aldeia de Almofala e a utilização da bebida conhecida como Mocororó, um fermentado do Caju utilizado nas práticas rituais desse grupo de conheciemento geral do grupo.

A imagens dos Tuxá de Rodelas(BA) mostram o ritual da Jurema e a utilização do tabaco como planta presente em todos os rituais que tem a presença do encantados onde a fumaça da ervas aromáticas misturadas com o tabaco chegam até aos encantados. O maracá como entre os outros grupos é parte fundamental do conversa com os encantados onde cada toante tem uma finalidade. Novamente o Toré dos Tuxá, um tipo bem específico cantado para o grupo reverenciar a presença dos encantados. As fotografias do Fulni-ô de Águas Belas (PE) também mostram um toré muito peculiar, pois é tocado com um par de flautas conhecidas como búzios, que nunca saem de sua aldeia.

As fotografias do Ramkokamekra do Maranhão mostra uma importante festa com Máscara denominada de Kokrit. No dia da festas os mascarados vão em direção a aldeia e todos os esperam, as máscaras se juntam, com música e danças as máscaras vão dançando no pátio da aldeia. É uma festa desejada pelo Ramkokamekra que exige uma grande logística para ser realizada e dura vários dias.

            Todos esses eventos acima relatados estão relacionados da pessoa com o mundo dos espíritos. Os corpos dos índios que participam desses rituais tem uma profunda relação com a pessoa. São corpos em transformação através das bebidas, das músicas, da fumaça se encontram como encantados que saem de uma mitologia para brincar e dançar com os corpos transformados.

 

[1] Agradeço o apoio e as sugestões dos colegas Nilvânia Amorim Barros, Wilke Torres de Melo e Anaíra Valadares, que fizeram parte da primeira equipe do projeto Colecão Etnográfica Carlos Estevão – Memória, Documentação e Pesquisa.




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